José Serra deixou o governo de São Paulo sem inaugurar a tão aguardada e necessária linha amarela do metrô, que ligará a Vila Sônia à Luz. Foi nesse trecho que se abriu o hoje quase esquecido buraco que matou sete pessoas - uma tragédia que permanece impune e sobre a qual o ex-governador nunca se referiu.
Serra também fez de conta que inaugurou o trecho sul do Rodoanel. A toque de caixa, milhares de operários passaram noite e dia trabalhando para dar à estrada uma feição de obra acabada, a fim de que fosse fotografada e filmada pelos órgãos de imprensa encarregados da propaganda oficial.
Enquanto dedicava todos os esforços nessas "realizações"- entre elas incluída a construção de mais faixas na irremediável marginal Tietê - ele arrochou salários do funcionalismo público, apertou de maneira quase insuportável os controles tributários, vendeu estatais, quebrou contratos, estimulou a guerra fiscal com outros Estados. E fabricou factóides, como proibir o fumo, a venda de coxinhas nas escolas e de bananas por dúzia.
O ex-governador mostrou-se ainda preocupado em reprimir movimentos reivindicatórios. Teve para isso a cumplicidade da Polícia Militar, que abandonou suas funções primárias para se transformar numa força paramilitar. As cenas do confronto com os policiais militares em greve são, talvez, o exemplo mais bem acabado do desastre que foi a administração Serra no tocante à segurança pública.
O tucano, porém, se esmerou ainda em levar a sua política de terra arrasada para outras áreas, como a saúde e a educação, só para citar algumas mais sensíveis socialmente.
Lá nos longínquos anos 20 do século passado, o presidente Washington Luís declarava que governar é "abrir estradas". O insuspeito ex-governador Paulo Maluf até hoje se orgulha das obras viárias que mandou construir. José Serra, no seu discurso de despedida do cargo, pouco enfatizou as obras materiais que deixou aos cidadãos do seu Estado. Preferiu acentuar que "os governos têm de ter honra", acrescentando que "aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras" e que "nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito"
A frase tem duplo sentido. Para seus amigos, ele quis dar uma estocada no governo federal. Por mim, prefiro ver nela uma defesa antecipada do julgamento que a história fará dessa sua curta e infeliz passagem pelo Palácio dos Bandeirantes.
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