domingo, 25 de abril de 2010

Serra agora ama o Mercosul


Dias depois de afirmar que o Mercosul é uma "farsa", o candidato tucano à Presidência da República, José Serra, volta atrás.
Em entrevista à Folha, muda de tom: "O Mercosul deve ser flexibilizado, de modo a evitar que seja um obstáculo para políticas mais agressivas de acordos internacionais", diz, para depois exibir todo o seu vasto conhecimento sobre comércio exterior, explicando como devem funcionar os blocos comerciais. É uma aula sobre o óbvio:
"Não se trata de acabar com o Mercosul, pelo contrário. Há duas instâncias de integração econômica. A primeira é o livre comércio entre os países que se associam - uma zona de livre comércio, a ser gradualmente implantada. A segunda, alcançada somente depois de décadas pela União Europeia, é a adoção de uma política comercial comum, ou seja, os países integrantes renunciam à sua soberania comercial, e fixam tarifas comuns de importações. Além do mais, só podem fazer acordos comerciais com terceiros se todos os membros concordarem. Tudo tem de ser feito em bloco. Eu sempre achei irrealista fazer-se tudo isso em quatro anos, a partir de 1995 [quando começou a vigorar a tarifa externa comum]. Na época, o ministro de relações exteriores era o mesmo Celso Amorim, no governo do Itamar Franco. Ele sabe que eu divergia do acordo, por achá-lo irrealista. Defendia que, primeiro, o Mercosul se fortalecesse como zona de livre comércio, o que tomaria tempo. Só aí se deveria partir para a união alfandegária. Nesse atropelo, o livre comércio não se consolidou e a união alfandegária nem se materializou totalmente, cheia de "perfurações" de tarifas. O Mercosul acabou sendo uma obra inconclusa, com todos os custos que isso envolve."
Em seguida, a Folha faz a única pergunta verdadeiramente jornalística de toda a entrevista - as anteriores serviram apenas para dar oportunidade ao candidato falar sobre seus "planos" para o comércio exterior e, de quebra, espinafrar o que o governo Lula fez na área. E, ao ser indagado sobre o mal-estar causado na Argentina pelas suas declarações sobre a sua vontade, manifestada a empresários mineiros, de acabar com o bloco, Serra saiu-se com essa:
"O que defendo é flexibilização do bloco, a fim de que nos concentremos mais no livre comércio. Claro que essa não seria uma decisão unilateral do Brasil. Teria de ser bem negociada com nossos parceiros do Mercosul."
A entrevista, avisa a Folha, foi feita por e-mail. É a prova de que Serra diz uma coisa e escreve outra, completamente diferente.

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