quinta-feira, 22 de abril de 2010

Saudades do genuflexório

Outro dia desses, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve numa dessas comissões do Senado, onde foi achincalhado pela coalização tucano-pefelista. Ouviu coisas do arco da velha, tais como a acusação de que seu trabalho na diplomacia brasileira era ridicularizado em todo mundo.
Amorim, com toda a sua experiência, deve ter achado que se encontrava não no Brasil, mas em alguma missão no País das Maravilhas, e que aqueles senhores que diziam tantas e tamanhas estultícies eram um só Chapeleiro Maluco que apenas mudava de feições.
O presidente Lula, dias atrás, numa cerimônia no Itamaraty, provavelmente se lembrou dos desaforos que Amorim teve de ouvir dos parlapatões que habitam o Senado, e num daqueles seus improvisos inesquecíveis, deu não só o troco, mas a explicação definitiva da diferença que existe entre o país que governa e aquele outro que existia antes dele.
Lula recordou para a seleta platéia o tempo em que o chanceler brasileiro era obrigado a tirar até os sapatos para poder entrar em território americano - episódio protagonizado por um Celso Lafer dócil e submisso. "Se um ministro meu fizesse isso, era melhor nem voltar para o Brasil", disse o presidente, para explicar depois que o Brasil atual já abandonou o complexo de vira-latas com o qual conviveu muito tempo e por isso não se ajoelha mais diante de ninguém.
Esse fato - ter deixado de ser um mero satélite dos Estados Unidos - certamente incomoda muita gente, especialmente aqueles que impuseram ao Brasil o chamado Consenso de Washington, um ideário neoliberal fundamentalista que afundou várias nações, entre as quais a nossa.
Não por coincidência, é essa turma que agora critica o fato de o Brasil integrar hoje os principais fóruns econômicos e políticos mundiais, ser ouvido com respeito sobre as questões fundamentais para o planeta Terra, ser invejado por antigas potências e exercer uma inconteste liderança regional.
Acostumados a dobrar a espinha ao menor sussurro de seus mestres, os integrantes desse bando de aves assustadiças e de voo rasteiro sentem saudades do desconfortável genuflexório que, usado por tantos anos, acabou moldando seu caráter.

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