sexta-feira, 19 de março de 2010

Liberdade, liberdade

Nos últimos dias li uma porção de coisas sobre a pequena ilha de Cuba, a esmagadora maioria para dizer que ela não passa de uma grande prisão, que seus habitantes são sufocados por um regime ditatorial, que, enfim, aquele é o inferno na Terra.
Claro que também, a muito custo e depois de muito procurar, consegui ouvir algumas vozes que discordam dessa visão, que veem problemas em Cuba, mas também muitos pontos positivos para a vida de seus cidadãos.
De tempos em tempos essa história - Cuba virar uma espécie de Geni entre os países -, se repete.
Essa onda avassaladora de críticas à ilha se formou depois da morte de um preso que se encontrava em greve de fome. Para 99% da imprensa o morto se transformou num mártir da liberdade, o símbolo da resistência à ditadura daquele país. Novamente, depois de muitos cliques, achei o contraponto: o sujeito era um preso comum, condenado inúmeras vezes por delitos variados, que, de repente passou a fazer reivindicações impossíveis de serem atendidas pelas autoridades.
Como não fui nenhuma vez a Cuba, tudo o que conheço do lugar se baseia no que vi ou li a respeito. E me parece que os críticos mais ferozes do regime cubano se baseiam no fato de que, para eles, lá não existem as chamadas liberdades fundamentais: livre expressão, livre associação, direito de ir e vir e por aí vai. Ou seja, tudo o que nós, que vivemos numa democracia representativa, temos de sobra.
Será mesmo? Não vejo, por exemplo, aqui no Brasil, que conheço mais ou menos, toda essa liberdade que os democratas de plantão proclamam como seu valor primeiro.
Aqui - e acho que na maioria dos países do mundo -, só é livre mesmo quem tem dinheiro, quem está no topo da pirâmide social. E esses não chegam a 5% da população.
O restante do povo tem de se contentar com um sistema educacional precário, uma rede de saúde totalmente desequilibrada, transporte público péssimo, poder Judiciário lento e corrupto, empresários sem nenhuma noção do seu papel social, imprensa e veículos de comunicação absolutamente partidarizados, poderosos monopólios, sistema policial medieval, violência e injustiças de toda a ordem. E olha que nos últimos anos o país melhorou muito...
Cuba pode mesmo não ser uma maravilha, mas acho que está longe de ser esse imenso presídio lotado de infelizes vítimas de um comunismo sanguinário que os "liberais" nos descrevem.

2 comentários:

  1. Excelente texto! Tomei a liberdade de republicá-lo, citando a fonte.
    Abraços!

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  2. Muito bom texto.
    Não existe liberdade sem uma justiça social, creio que o sistema comunista ou socialista tem uma visão mais profunda do problema e estes mesmos sistemas não tem culpa do seu mal e vergonhoso uso.
    Mesmo não conhecendo Cuba podemos ter a certeza de que ela é um símbolo para a sul américa, é uma nova visão de que é possível uma sociedade "diferente",
    Porque existe tanta polêmica por um lugar pobre, sem riquezas?
    Talvez pelo medo do seu significado.
    Abraços

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