Muitas vezes esses sujeitos enganam os outros com uma conversa que pretende colocá-los acima das ideologias. Fazem de conta, até, que um dia foram de esquerda. Nada radical, é claro.
A maioria dessas pessoas está hoje no topo da pirâmide social, ou quase lá. São, para os padrões usuais, bem-sucedidos. Ocupam, ou ocuparam, cargos de chefia, de relativa importância nas organizações em que trabalham ou trabalharam. Nunca disseram não aos patrões, perderam muitos amigos ao longo dos anos, mas não se dão conta disso. Preferem o conforto de suas espaçosas casas e de suas caras bebidas - compram, invariavelmente, vinhos importados, mas raramente sentem algum prazer especial em tomá-los.
Estão há tanto tempo casados que nem se importam mais com suas mulheres. Ou com seus filhos.
São especialistas em generalidades, dizem-se amantes da democracia, desde que ela não altere seu modo de vida.
Acreditam que a liberdade de imprensa é aquilo que lhes oferece a Folha, o Globo, a Veja e o Estadão, que o jornalismo é imparcial e que só existe uma única e irrevogável verdade. Leem tantos livros e são como analfabetos.
Acham que aquele sonho de um mundo melhor que tiveram muitos anos atrás foi um simples arroubo juvenil e que a vida é implacável com os fracos e só premia os fortes - como eles.
Carregam tantas certezas que já nem sabem mais ao certo porque odeiam tanto os humildes, os pequeninos, os fracos, os feios, os sujos, os diferentes - todos aqueles que os chamam, respeitosamente, de "doutor".
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