sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sacra oposição

A Igreja Católica, pelo menos seus setores mais preocupados com a questão social, sempre foi uma das mais fortes aliadas do PT. Muitas vezes as bandeiras de luta eram unificadas, dando a impressão que os objetivos eram comuns. Mas depois que o partido assumiu o poder, começaram a pipocar críticas ao governo federal dos antigos companheiros de caminhada. E o que parecia ser apenas uma oposição pontual, de algumas vozes isoladas e discordantes, assemelha-se agora a um movimento institucionalizado.
O mais recente exemplo é a Campanha da Fraternidade de 2010, realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, que levará para cerca de 50 mil comunidades cristãs discussões sobre economia. O texto-base do evento critica a crescente dívida interna do país, as altas taxas de juros, a elevada carga tributária, o sistema financeiro internacional e até mesmo o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
A campanha deste ano reunirá, além da Igreja Católica, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e a Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia. Elas integram o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a organizadora do evento em 2010. Será a terceira vez que a campanha terá caráter ecumênico, repetindo um formato já adotado em 2000 e em 2005.
O material do evento propõe a conscientização sobre alguns temas econômicos que são pouco conhecidos por grande parte da população.
Em relação à dívida interna, por exemplo, o manual da campanha diz: "Apesar dos gastos com juros e amortizações da dívida pública consumirem mais de 30% dos recursos orçamentários do país, essas dívidas não param de crescer. A dívida interna alcançou a gigantesca cifra de R$ 1,6 trilhão em dezembro de 2008, tendo apresentado crescimento acelerado nos últimos anos".
Segundo o texto, a dívida inviabiliza a aplicação de recursos na área social. Uma das tabelas do material mostra a elevação da dívida nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
O secretário-geral do Conic e reverendo da Igreja Anglicana, Luiz Alberto Barbosa, diz que a meta do evento, que vai até 28 de março, é fazer com que as comunidades reflitam sobre o que está dando certo e errado na economia do país, e possam cobrar mudanças dos políticos nas próximas eleições.
"Escutamos o discurso oficial de que o país caminha para ser a quinta economia do mundo. Mas é preciso perguntar: se o cenário é tão bom, onde estão os recursos? Ainda temos quase 40 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza e não há trabalho e saúde para todo mundo", afirma Barbosa.
O frade dominicano Carlos Josaphat, um dos principais intelectuais da Igreja Católica, diz que um dos objetivos do evento é fazer com que os cristãos deixem de ser omissos em relação ao uso perverso das ferramentas da economia.
A campanha também defende a realização de um plebiscito sobre a limitação do tamanho das propriedades rurais do país, e propõe que as comunidades se mobilizem para conseguir assinaturas suficientes para transformar essa proposta em lei de iniciativa popular.
É importante que os cristãos brasileiros se engajem em discussões sobre o rumo do país. Isso mostra que a democracia começa finalmente a amadurecer. Mas seria importante que eles tivessem em mente que a crítica deve ser feita com o propósito de melhorar as condições da população e que as justas reivindicações precisam ser exequíveis - e não metas utópicas perseguidas neste mundo e só alcançadas no outro.

Um comentário:

  1. De minha parte essa igreja já era faz tempo, só tem pedófilo e o negócio deles é o dinheiro, mais nada!

    ResponderExcluir