domingo, 6 de dezembro de 2009

Vozes juvenis

Se eu tinha alguma dúvida sobre a queda dos padrões de qualidade da imprensa nativa, elas foram inteiramente dissipadas nesses últimos dias. Não, não estou me referindo à cobertura política dos jornalões: a respeito disso, acho que a contaminação partidária do noticiário é irreversível, e são poucos os capazes de defender, sem nenhum traço de cinismo, essa fórmula, apresentada como se fosse a derradeira guardiã de nossa jovem democracia.
Estou falando mesmo é do despreparo dos jornais para exercer aquilo que um dia foi chamado no Brasil de jornalismo.
Poderia ficar aqui citando tantos exemplos dessa ruindade que não pouparia não só a minha, mas a paciência de todos que porventura ousem ler esta croniqueta.
Por isso, vou me ater a um só fato, verificado, com extremo pesar, no decorrer de toda a semana passada, em variados veículos de comunicação, cada um mais importante que o outro: a crítica do novo CD de uma moça chamada Mallu Magalhães, que, todos sabem melhor do que eu, ganhou a fama como cantora/compositora aos 16 anos, depois de que o YouTube espalhou alguns vídeos de suas interpretações pela rede.
Hoje, dizem os críticos de publicações como Folha e Estadão, entre outras, Mallu está mais "amadurecida", compõe com mais liberdade (antes só o fazia com letras em inglês e usando melodias que eles classificam como "folk", sejá lá o que for isso), canta melhor e, por ter deixado de ser uma artista "independente", seu trabalho está mais bem produzido. E haja louvação.
Talvez por ter crescido escutando compositores e cantores de verdade, ter acompanhado o trabalho de críticos de verdade, ter lido jornais e revistas de verdade, confesso que o pouco que me resta de cabelo se arrepiou quando fui constatar, por meio de uma improvisada audição, se o trabalho da garota merecia tantos rapapés.
O que ouvi...bem, vamos deixar para lá.
O fato é que, depois da sessão pseudomusical a que me submeti, baixou em mim uma melancolia que há muito não experimentava, um misto de desalento e rendição a esses novos tempos, que confundem arte com hobby, profissionalismo com pedantismo, trabalho com distração.
Desejo a melhor sorte do mundo a essa nova estrela da música popular brasileira. Que seja feliz, que continue a distrair os adolescentes com a sua inquietação juvenil.
Quanto aos críticos que manejam os adjetivos laudatórios com a facilidade e velocidade da internet, só dou um conselho, se é que este meio século e pouco de experiência vale alguma coisa: nunca é tarde para estudar, nunca é tarde demais para aprender.
Ah, e antes que me esqueça: sejam um pouco menos dependente dos releases.

2 comentários:

  1. Oi, Motta! Para se refazer, experimente Maria Gadú: a moça fez um dos cds mais lindos (de MPB) que já ouvi. Bonito demais!! Ah! na primeira vez que escutar, vá da música 6 até a 13 (é minha sequência favorita). Grande abraço!

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  2. Valeu, Ivana.
    Obrigado pela dica.
    Vou escutar, sim.
    Abraço,
    Motta

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