O caso de corrupção que a Polícia Federal levantou no Distrito Federal e que apropriadamente denominou "Operação Caixa de Pandora", além de chocar pela quantidade de pessoas envolvidas, chama a atenção por revelar alguns personagens que atuavam discretamente instalados na administração pública, como simples membros de uma burocracia preguiçosa.
Caso, por exemplo, do ex-secretário adjunto de Saúde Fernando Antunes. Presidente regional do Partido Popular Socialista (PPS), Antunes é acusado de, junto com o ex-secretário de Saúde e deputado federal Augusto Carvalho (PPS), cobrar propina da empresa Uni Repro Soluções Tecnológicas, detentora de um contrato de prestação de serviços que em apenas dois anos elevou os gastos da secretaria com serviços gráficos de R$ 235 mil (2006) para mais de R$ 14,8 milhões (2008).
Assim como o próprio contrato com a empresa paulista, que, apesar de condenado pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF), está em vigor desde 2007, só depois que a PF deflagrou a operação fatos controversos sobre Antunes começaram a vir à tona.
Servidor da Controladoria-Geral da União (CGU) cedido ao GDF, membro fundador da ONG Transparência Brasil e presidente licenciado da União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon), Antunes foi condenado em primeira instância pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal a devolver R$ 200 mil ao condomínio no qual foi síndico por quatro anos (1998-2002).
Durante o processo, o juiz Fabrício Fontoura Bezerra se convenceu de que, segundo as provas periciais, “as contas apresentadas por Antunes contêm várias irregularidades que, juntas, somam a quantia de R$ 200.384,70”. Ainda de acordo com o juiz, a perícia realizada nos balancetes, documentos e na prestação de contas apresentados pelo ex-secretário comprovam “o efetivo desvio de valores, pagamentos sem comprovação, duplicidade de recibos para justificar falsos pagamentos, entre outros fatos”. Antunes recorreu da decisão e aguarda o julgamento do recurso.
Sobre a ligação de Antunes com a Transparência Brasil, o seu diretor-executivo, Cládio Abramo, afirmou que Antunes e a Unacon deixaram de ser sócios da entidade assim que o ex-secretário passou a integrar o governo do Distrito Federal, em 2007.
No inquérito da PF, Antunes é citado durante uma conversa entre Durval Barbosa, autor das denúncias e ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, e o ex-secretário de Saúde e ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel, outro alvo da Operação Caixa de Pandora. Durante o diálogo gravado por Barbosa com autorização judicial, os dois mencionam que parte do dinheiro arrecadado por Antunes e pelo deputado Augusto Carvalho servia para “ajudar” o presidente nacional do PPS, o ex-deputado federal Roberto Freire.
Os deputados Augusto Carvalho e Roberto Freire negam ter participado ou se beneficiado do esquema denunciado por Durval Barbosa e prometem buscar reparação judicial.
A história toda é cabeluda, sob qualquer ponto de vista. E, embora se saiba que corrupção e administração pública são irmãs siamesas aqui no Brasil, a profundidade dessa Caixa de Pandora dá o que pensar.
Faz a gente desconfiar de tudo. Por exemplo, daquele vizinho que mora num sobradinho e aparece com um carrão novo a cada dois meses, enquanto a gente mal e mal equilibra as contas a pagar. Ou daquele outro, funcionário público de uma repartição esquecida, moralista empedernido, que alterna os fins de semana entre o apartamento no litoral e a chácara no interior, "pechinchas" que comprou com a poupança suada de seu magro salário.
E, como é impossível, pelo menos num curto prazo, mesmo com todo o esforço da polícia, acabar com a praga da corrupção, que a Caixa de Pandora sirva como exemplo capaz de assustar - um pouco que seja - esses bandidos travestidos de gente séria.
Porque eles são apenas isso - criminosos comuns.
Com informações da Agência Brasil
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