quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O choro dos inocentes


A pesquisa CNT-Sensus que mostrou quanto querido pelo povo brasileiro é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso provocou reações de vários tipos. A mais inusitada veio de alguns conhecidos jornalistas, que abandonaram todo e qualquer pudor que tiveram um dia e escreveram apaixonados textos nos quais fazem veementes defesas do Príncipe e seu reinado - sem nenhuma preocupação com a veracidade dos fatos narrados, é bom que se diga.
Como Gilberto Dimenstein, da Folha, que intitulou a sua obra-prima de "FHC é o grande padrinho de Lula". Aí vai para a apreciação de todos:

Leio análises falando que um dos pontos vulneráveis de José Serra --e teria aparecido na mais recente pesquisa mostrando a subida de Dilma Roussef-- é Fernando Henrique Cardoso, com alta taxa de rejeição. Por isso, o ex-presidente seria escondido na campanha. A verdade é que, por outros motivos, FHC é o grande padrinho de Lula --qualquer pessoa com um mínimo de equilíbrio terá de concordar com isso.
Em essência, o governo Lula é a continuidade da gestão anterior --e aí está um dos pontos mais inteligentes do presidente. Ele pegou a inflação baixa, um país na rota do crescimento, as bases de seu mais importante programa social em andamento (o Bolsa Família). As finanças públicas tinham passado por medidas importantes como a lei de responsabilidade fiscal.
Lula soube aprimorar o que recebeu. Radicalizou a política social, manteve as bases econômicas. Para completar, além da sorte com a descoberta do pré-sal, passou por uma época de crescimento mundial --com exceção dos últimos 12 meses. Não herdasse o que herdou, teria muito menos condições de angariar um prestígio tão grande.
É tolice não reconhecer a habilidade de Lula e seu extraordinário pragmatismo. Mas é tolo não reconhecer que FHC é seu grande padrinho, cuja alta taxa rejeição faz parte daquelas injustiças --mas será reparada pela história.
Ninguém no PSDB, a começar por José Serra, consegue nem remotamente ter a postura de estadista de FHC.

É um clássico.
Já o rodado Augusto Nunes, que agora presta serviços à Abril, fez uma longa entrevista com o ex-presidente e não se conteve nos elogios ao "padrinho de Lula". Na apresentação da "última etapa do passeio pela história real de um país desmemoriado", como gongoricamente intitulou a última parte de seu trabalho, ele escreve outra pérola deste recente movimento de resgate à dignidade perdida de FHC.
Também merece ir para o trono:

A entrevista com Fernando Henrique Cardoso confirma que, nem faz tanto tempo assim, existiu vida inteligente no centro do poder. Também ensina que é possível fazer política sem revogar o convívio dos contrários e sem recorrer à lei da selva para ganhar a eleição.

Com tantos e tão diligentes defensores, FHC deve estar agora mais tranquilo. Afinal, pior do que enfrentar a solidão do poder é amargar o esquecimento em vida.

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