quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O viés estatizante


De repente, tudo o que se refere ao governo passou a ter "viés estatizante". A expressão sai fácil da boca de políticos da oposição, dos ditos cientistas políticos, dos especialistas de tudo e de nada, de jornalistas de variadas espécies, de qualquer um, enfim, que queira criticar uma ação, uma medida, um ato da administração Lula.
"Este viés estatizante está na cabeça de Lula, da ministra Dilma Rousseff e em todo o núcleo duro do Planalto. Não sei o porquê, mas a ministra está sempre tentando estatizar várias ações das agências", diz a notória Lúcia Hippólito, uma das mais amadas "analistas" do Sistema Globo de Informação, a respeito da Petro-sal, empresa que deverá ser criada para cuidar dos negócios do petróleo da camada pré-sal.
O uso da expressão se vulgarizou depois que foi anunciado o novo marco regulatório do setor petrolífero. Até então, o governo Lula era tratado com mais frequência como "populista", "incompetente", "gastador" e adjetivos semelhantes.
O "viés estatizante", embora estivesse latente na fértil imaginação dessas pessoas que têm como hobbie predileto brincar com o futuro do país, só despertou e tomou as dimensões de um monstro devorador de criancinhas depois que o tema pré-sal foi alçado às manchetes.
De certa forma, a expressão resume tudo de ruim que essas pessoas pensam não só do governo atual, mas principalmente de seu chefe.
Para elas é inadmissível que o modelo tão amado do deus mercado pregando suas peças impunemente, fazendo o que queria de tudo e de todos, com a complacência e a adoração de uma legião de basbaques contentes por ficar com a ínfima parte de um imenso butim, seja escanteado e ceda lugar a um sistema em que o Estado é o protagonista.
E, suprema humilhação, para tal gente é impossível acreditar que esse sistema não só dê certo, não só funcione, como faça o país andar, crescer, vencer a grave crise criada pelo privatismo absoluto, a desregulamentação desmedida, o capitalismo sem amarras que prevaleceu por décadas neste Ocidente de maravilhas e neste Hemisfério Sul de tristezas milenares.
"Viés estatizante", para as Lúcias Hippólitos que transitam com facilidade pelas salas luxuosas de uma elite ressentida e saudosa, tem um significado subjacente ao que dizem os dicionários.
Quer dizer também que o Brasil deu certo e se tornou forte - e isso não se admite.

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