quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Ordem do Dia da ANJ

No mesmo dia em que realizou um grande seminário para comemorar seus 30 anos de existência, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade que reúne os maiores órgãos de imprensa do país, teve a prova definitiva de que seus associados precisam, urgentemente, mudar de rumo: o destaque que deram ao depoimento da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, os coloca no nível de panfletos de grêmios estudantis, quando muito.
A rigor, a mulher que acusa a ministra-chefe da Casa Civil de ter pedido a ela para "agilizar" as investigações sobre um dos filhos do senador José Sarney, não disse absolutamente nada além do que os próprios jornais vêm, com uma insistência única, publicando. O depoimento não apresentou nenhuma novidade, nenhum fato que confirmasse a sua acusação. Tudo continua como antes, no nível de, quando muito, uma boa fofoca, a ser comentada em círculos privilegiados - e que, não se sabe como, vazou para o país inteiro.
Claro que a oposição faz o seu papel de tumultuar o quanto pode a vida do governo, tentando com isso minar a sua força para a disputa eleitoral, marcada para 2010, mas já em pleno andamento. E ela tem bons motivos para isso.
Seu candidato preferencial, o governador paulista José Serra, apesar de todo o favorecimento que lhe dão os associados da ANJ, patina nas pesquisas eleitorais. Se no domingo o Datafolha lhe deu uma vantagem confortável, ontem o Vox Populi mostrou que as coisas não são bem assim.
Mas se isso é a única opção que resta a tucanos e pefelistas, aos associados da ANJ cabe um outro caminho, antes que seja tarde. Como repetidamente tem afirmado a associação em seus 30 anos de vida, a liberdade de imprensa é um valor intrínseco à democracia. Os dois andam juntos, quais gêmeos siameses. Os dois sofrem das mesmas dores, seguem o mesmo destino.
Infelizmente, no Brasil de hoje, os associados da ANJ, em vez de atuarem como caixa de ressonância da sociedade, passaram a ser simples porta-vozes da elite social, política e econômica que manda no país há séculos.
A liberdade de expressão que tanto prezam foi trocada pela publicação de uma Ordem do Dia monotemática, no melhor estilo das ditaduras que eles tanto dizem desprezar.

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