terça-feira, 18 de agosto de 2009

Céu e inferno

O senador Pedro Simon, bem ao seu estilo dramático e grandiloquente, ocupou a tribuna do Senado, na segunda-feira, para, mais uma vez, pedir a renúncia do presidente da Casa, José Sarney. Como das outras vezes, fez um discurso emocional. A diferença é que agora, Simon chegou ao extremo. Comparou o Senado ao inferno:
"Ora, esta Casa nunca foi santa. É verdade que o sr. Darcy Ribeiro dizia que o Senado era muito bacana, melhor do que o céu, porque para ir para o céu precisa morrer, e para vir para esta Casa não precisa morrer. Eu diria que nós estamos vivendo um momento em que esta Casa é pior do que o inferno. Sem morrer, estamos vivendo o inferno aqui, no Senado, pelo deboche, pela ridicularização."
Mais adiante, previu o caos:
"Eu dizia, 15 dias atrás, em uma segunda-feira que nem hoje: presidente Sarney, eu acho que o senhor deve renunciar, porque, se o senhor não renunciar, eu não sei o que vai acontecer. Dias muito negros, horas muito difíceis, dramáticas, nós vamos viver..."
E por aí foi.
O senador Pedro Simon fará 80 anos no dia 31 de janeiro de 2010. Está na vida pública desde 1960 e foi eleito senador pela primeira vez em 1978 para exercer o mandato no período 1979 - 1987. Lá se vão, portanto, 30 anos. Foi reeleito senador em 1990, 1998 e 2006. Tem, praticamente, uma vida dedicada ao Senado. É respeitado pelos seus pares e eleitores. Está bem de vida, possui inúmeros correligionários. Não precisa, em suma, passar pelo que está passando - ser debochado, ser ridicularizado, viver num inferno, estar prestes a enfrentar "dias muito negros, horas muito difíceis, dramáticas..."
Para que isso, senador? Para que tantos sacrifícios? Vossa Excelência certamente não está só em sua luta para moralizar o Senado, para retirar da Casa o quisto repleto de matéria fétida que polui tudo ao seu redor. A nação saberá compreender que Vossa Excelência lutou a boa luta enquanto pôde, e que só não fez mais porque tem as limitações de um simples mortal.
Senador Pedro Simon, ouça o conselho deste humilde cidadão: deixe o inferno para quem o merece e vá para casa viver o céu entre as suas pessoas queridas.

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