domingo, 30 de agosto de 2009

O mundo perfeito


Tenho alguns amigos que, antes simpatizantes do PT, hoje torcem o nariz para a legenda, acusando-a, e ao presidente Lula, de terem traído os seus princípios. Usam os mesmos argumentos de tantos outros petistas arrependidos: o partido, no poder, abandonou a ética e a moralidade, aliou-se ao que mais atrasado existe no cenário político do país, ficou, enfim, igual às outras agremiações. PT nunca mais, dizem, peremptórios.
É muito difícil argumentar com pessoas que se deixam levar pela emoção. Vários desses meus amigos e, creio, muitos dos petistas arrependidos, em certa época de suas vidas depositaram no PT as esperanças que tinham de ver um Brasil melhor, menos injusto, menos desigual.
Estou certo que a maior parte deles agia de boa fé, mas com muita ingenuidade. Talvez faltasse a eles uma visão histórica mais ampla, e mesmo uma formação teórica mais acurada, que lhes desse a compreensão de que a luta política não se faz apenas de uma dose maciça de voluntarismo.
Esses meus amigos dizem que Lula não poderia nunca, em nome da governabilidade, ter ao seu lado figuras como Temer, Sarney, Geddel, Renan e outros assemelhados. De nada adianta argumentar que, sem maioria no Congresso, nenhum governo fica de pé. Ou que, em minoria, Lula estaria refém dos desejos dos seus opositores - e, portanto, o melhor é trazer essa turma para o seu lado, mesmo que para isso você tenha de ceder em alguns pontos.
Meus amigos e os petistas arrependidos dizem também que Lula e o PT tinham obrigação de, no governo, mudar radicalmente o jeito de fazer política no país. Não sei bem o que isso significa.
As instituições estão aí para serem respeitadas e se elas não funcionam adequadamente, cabe à classe política reformá-las - mas isso é tarefa para todos os partidos, não só para o PT.
No mais, no dia a dia, política se faz através de um jogo de perde e ganha incessante, um jogo dialético, tão antigo como o próprio homem. E, se existe tal jogo, isso significa que os participantes têm opiniões diferentes, visões distintas sobre todos os assuntos em debate.
Isso se chama democracia e é muito bom conviver com ela.
Apesar de todas as queixas que têm contra Lula e o PT, esses meus amigos pelo menos concordam comigo que o Brasil de hoje é melhor do que o de alguns anos atrás. Não consegui, porém, que eles vinculassem esse avanço ao que fez o atual governo. Eles preferem enfatizar o que não foi realizado - e que é muito, reconheço.
Claro que esses meus amigos e os petistas arrependidos não votarão na candidata de Lula no ano que vem. Estou certo que a maioria vai preferir alguém que tenha o perfil do político que idealizavam há 20, 30 anos, quando o PT era oposição e ainda engatinhava. No fundo, eles querem o Lula líder sindical, de barba negra, olhar feroz e discurso desafiador. No fundo, eles querem de volta o romantismo dos anos 80.
O problema é que tudo isso ficou no passado.

2 comentários:

  1. Motta, os "petistas arrependidos" e outros nem tão arrependidos assim (casos de Luciana Genro, Heloísa Helena, Babá e tantos outros) parecem esquecer que Lula chegou à Presidência como resultado de uma eleição em regime democrático e não de uma revolução popular que derrubou uma ditadura. Parece incrível, mas acham que Lula poderia agir, no Brasil de 2003, como Fidel Castro na Cuba de 1960.

    Ainda assim, tenho consideração pelos ex-petistas que trocaram o partido por legendas de esquerda como PSOL e PSTU. Pode-se discordar deles, considerá-los ingênuos, mas não mudaram seus ideais. Não posso dizer o mesmo de "casos" como Soninha, Gabeira e outros que, "desiludidos" com a "desonestidade" do PT, se aliaram à honestidade impoluta do PSDB, PFL e quejandos.

    Abraços! (LAP)

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  2. Prezado

    Expressa perfeitamente o sentimento dos ex-petistas e simpatizantes, onde me incluo, mas...os fins justificam os meios? onde está o partido que era paladino da moralidade? Seu texto já responde: "O problema é que tudo isso ficou no passado".
    abraço

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