Se o mundo é o que é, com todas as suas qualidades, todas as suas belezas, todos os seus defeitos e horrores, isso se deve, unicamente, ao homem.
Não foi o trovão, não foram os animais, nem estrelas distantes ou deuses implacáveis que transformaram o planeta Terra.
O homem, unicamente ele, numa sucessão de feitos extraordinários, tem moldado à sua feição a casa que habita.
Sua principal ferramenta é o seu cérebro, seu intelecto, a razão - e uma imensa capacidade de aprender.
Se hoje existe a internet, se neste exato momento uma pessoa lê este texto, isso significa apenas que o homem triunfou sobre a ignorância, o preconceito, os medos, sobre todas as forças negativas que o acossam desde sempre.
Outro dia, o canal a cabo History Channel mostrou um documentário sobre Albert Eistein. Não sobre sua vida inteira, mas principalmente a respeito do período em que estabeleceu a sua Teoria Especial da Relatividade, com que derrubou o universo newtoniano e escancarou as portas para a contemporaneidade.
Terminado o programa, restava uma pergunta a ser feita: como foi possível que uma pessoa sozinha, trabalhando somente nas horas vagas, tivesse construído um edifício tão alto, tão complexo e tão revolucionário?
Einstein é a personalidade que exemplifica de maneira mais simples e eloquente o que é a ciência e a sua importância para o ser humano.
Não tivesse ele nascido, porém, certamente outras pessoas chegariam às mesmas conclusões a que ele chegou. Pois o trabalho da ciência não cessa nunca, apesar de todo o esforço que muitos fazem para interrompê-lo, para sufocá-lo.
Curioso sobre a senadora Marina Silva que a imprensa, nesses últimos dias, louva como a terceira via que vai marcar a eleição presidencial de 2010, dar um salto de qualidade no debate entre Serra e Dilma, perdi alguns minutos com essa notável ferramenta que é o Google.
O resultado foi esclarecedor.
Acabei numa matéria da bem comportada revista Época, de 13 de maio de 2008, intitulada "A ministra criacionista - Marina Silva, do Meio Ambiente, mistura religião e ciência e defende o ensino do criacionismo", cujo lide é o seguinte:
"A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem um dos cargos mais espinhosos do país. O avanço assustador do desmatamento na Amazônia, a dificuldade em acabar com a corrupção no Ibama e o trabalho de liberação de obras com impacto ambiental são desafios desgastantes. Nos últimos dias, porém, Marina se meteu numa outra polêmica. Ao participar do 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, em São Paulo, ela equiparou o evolucionismo, a teoria mais aceita entre os cientistas para explicar a evolução da vida na Terra, ao criacionismo, a crença religiosa em que a vida foi criada por Deus exatamente como descreve a Bíblia. Depois, em entrevista a um blog de jovens adventistas, Marina – uma ex-candidata a freira que se tornou evangélica e é missionária da igreja Assembléia de Deus desde 2004 – defendeu o ensino nas escolas do criacionismo ao lado do evolucionismo."
Alguns cliques depois, caí num editorial da insuspeita Folha de S. Paulo, jornal que hoje parece ser um dos mais entusiasmados simpatizantes da aventura à qual, tudo indica, a senadora vai embarcar. Eis o que ele diz:
"Graves e complexos problemas não faltam à ministra Marina Silva, em suas atividades na pasta do Meio Ambiente. Como se estes não bastassem, sua participação no 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante das quais o cargo que ocupa no Estado brasileiro recomenda cautela que não soube observar.
"Em palestra intitulada 'Meio Ambiente e Cristianismo', Marina Silva valeu-se de sua formação evangélica para transpor em chave religiosa o tema da preservação dos recursos do planeta.
"Nada que inspirasse maiores reparos, portanto - assim como não se discute o direito de um ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de crença ou descrença religiosa.
"Os adeptos do criacionismo, entretanto, não se contentam com pouco - e depois da conferência a ministra foi instada, em entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das teorias antidarwinistas. Num estilo próximo ao dos neoconservadores americanos, considerou que 'as duas visões' devem ser oferecidas aos alunos, para que 'decidam' por si mesmos.
"Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que a fé pessoal é compatível com o espírito científico; que religião e ciência não se opõem.
"Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o criacionismo tenta fazer, sem base comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar. Que a religião fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade."
Creio que as transcricões desses dois órgãos de imprensa, considerados por nossa elite econômica e intelectual como de ilibada reputação, são suficientes para que o caro internauta que se dignou a chegar até este ponto dessas minhas cansativas observações tenha percebido o que eu quis, em tantas palavras, dizer: com certas coisas não dá para brincar.
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