Com a mesma desculpa usada por outras categorias profissionais, que aproveitaram a crise econômica global para demitir e depois recontratar trabalhadores por salários mais baixos, os empresários de comunicação de São Paulo apresentaram uma contraproposta ridícula aos jornalistas do Estado, na primeira rodada de negociações, cuja data-base é 1 de junho: reajuste em duas parcelas – 3% em junho para quem ganha até R$ 4.000,00 por mês e mais 2,38% em dezembro para quem ganha até R$ 4 mil e duas parcelas fixas, uma em junho, de R$ 120,00 e outra de R$ 98,06, em dezembro para quem ganha acima disso.
Com os índices apresentados, o piso da jornada de cinco horas passaria para R$ 1.790,40, com data base em junho, e para R$ 1.833,01 em dezembro.
Só para ter uma ideia do ridículo da proposta patronal: o sindicato dos jornalistas reivindica reajuste de 12,83%, sem parcelamento, que daria um piso de R$ 1.962,00 para jornada de cinco horas e R$ 3.139,20 para sete horas.
A realidade das empresas, apesar do que dizem os patrões, não é de crise. Houve aumento médio do faturamento em publicidade de 12,83% no período em negociação. Fora isso, são os próprios jornais que noticiam que o Brasil está entre os países menos afetados pelas turbulências da economia mundial.
O endurecimento das negociações já era esperado por grande parte da categoria depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.
A iniciativa coroou anos e anos de intenso lobby patronal, iniciado pela Folha de S. Paulo e seguido por todos os outros órgãos de imprensa do país, com as bençãos da Associação Nacional dos Jornais, que representa o interesse patronal.
A análise de jornalistas experientes é que, se vingar a intenção do presidente do STF, Gilmar Mendes, de desregulamentar o execício do jornalismo - e, na esteira, de outras profissões -, estará aberto o caminho para a barbárie - fim das negociações salariais, extinção dos sindicatos de trabalhadores, vigência absoluta da lei da selva, pela qual os mais fortes mandam e os mais fracos se calam e simplesmente obedecem.
O interessante da história é que aqueles que, por ideologia, por oportunismo, ou apenas por ingenuidade, têm defendido a absurda decisão do STF, estão no mesmo barco dos jornalistas diplomados.
Isso porque o passaralho é uma ave de rapina, e como todo predador prefere atacar quem está mais perto, quem é mais vulnerável, aquele mais fraco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário