O que mais irrita nessa campanha da mídia em geral - e do Estadão, em particular - contra José Sarney, não é o fato de que ela tem como alvo o governo Lula. Isso faz parte do jogo político - e hoje, no Brasil, ele tem como atores também os órgãos de comunicação, que odeiam tudo o que possa representar qualquer tipo de melhora nas condições sociais e econômicas da população em geral.
Como se sabe, os principais empresários de comunicação deste país de dimensões continentais pertencem a algumas poucas famílias - os Frias, os Mesquita, os Marinho, os Sirotsky, entre os mais conhecidos. Atingiram o topo quando o Brasil era o campeão da desigualdade, da injustiça social, quando o credo neoliberal vitimava dezenas de milhões de pessoas e reduzia a nação a mera colônia do rico Hemisfério Norte.
Para tais empresários, o Brasil era o melhor país do mundo - e ai de quem ousasse fazer algo para alterar esse quadro.
E agora, voltamos a Sarney, que durante décadas praticou o tipo mais abjeto de política, com a truculência típica do coronel nordestino, e, mesmo assim, jamais foi hostilizado por essa mesma imprensa que hoje o crucifica. Ao contrário, ganhou até espaço para publicar nela artigos com a grife de acadêmico "imortal".
O que Sarney não esperava era que a aliança que fez com o governo Lula pudesse ter consequências tão funestas à sua própria sobrevivência parlamentar e de chefe longevo daquele clã originado no Maranhão.
É, como se diz, a bola da vez.
E tudo em nome de uma ética que não existe. Porque todo esse grandioso, imenso, incomensurável esforço da mídia nada tem a ver com a moralização do Senado ou algo que o valha. A nossa briosa imprensa, que critica vazamentos que expõem seus aliados e usa o mesmos artifícios para atingir seus desafetos, não quer, absolutamente, que o Congresso mude seus hábitos e costumes.
Um Parlamento de homens retos, de cidadãos honestos e de princípios, seria a ruína da imprensa.
Ela é o que é, com toda a sua notável força para destruir reputações, erguer falsos heróis, semear ódios, defender escroques, e até mesmo provocar rupturas na ordem social, justamente por contar com o auxílio de pessoas como o político José Sarney.
Tudo o que se lê, se escuta e se vê hoje nos principais órgãos de informação do país tem como fim manter intacta a "casa de horrores" que é o Congresso Nacional.
Sarney, com seu bigode démodé e cabelos brilhantinados, seus dicursos com cheiro de naftalina, seus parentes de apetite gargantuesco, não passa de uma figura tragicômica perfeitamente descartável neste momento - em prol do bem maior, que é reforçar este ignóbil status quo.
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