Um desses bravos e queridos jornalistas da antiga mostrava a colegas de redação, horas antes de receber, nesta semana, uma justa homenagem por décadas de bom trabalho, um xerox de uma matéria que escreveu para a revista Veja, lá no distante ano de 1970.
- Olhe só o expediente. Só tem "cobras". Hoje não leio mais a Veja e isso não me faz a menor falta - disse.
E exibia, com orgulho, o furo que havia conseguido, graças a um misto de persistência, competência e muito talento.
Enquanto a rodinha se desfazia, dava para ouvir, numa das televisões da redação, a notícia de que a gripe suína tinha feito a primeira vítima fatal no Estado de São Paulo.
Pouco tempo depois, sabia-se que, na verdade, a menina que havia morrido não estava só com a gripe - tinha também pneumonia. Ou seja, a infecção generalizada que a vitimou não foi decorrente da influenza A H1N1.
Mas para os jornalistas que se encarregaram de espalhar a notícia pela TV, pelo rádio, pela internet e, depois pelos jornais, o que importava mesmo era destacar que a garota morrera por causa da gripe suína.
Ignorância, despreparo? Pode ser.
Prefiro acreditar, porém, que essa leva de notícias mal apuradas, pautas pré-fabricadas e reportagens tendenciosas que se vê hoje na quase totalidade da imprensa brasileira seja mesmo fruto de anos e anos de lavagem cerebral a que os jornalistas foram submetidos, depois que o país ficou sujeito a esse credo neoliberal, que nivela tudo por baixo numa competição desregrada em busca do lucro.
Em meio à selva, tentando apenas sobreviver, o jornalista perdeu seu senso crítico, se afastou de noções éticas e morais - compreendido aí o esforço por fazer um trabalho pelo menos tecnicamente apreciável.
Claro que há exceções.
São esses profissionais que, nostálgicos, meio desesperançados de ver dias melhores, ou até porque já viveram tantas coisas no longo caminho que percorreram, alegram com sua inteligência mentes dispostas a lutar contra a indigência intelectual generalizada.
Benditos sejam!
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