sábado, 4 de julho de 2009

O poder de uma boa edição

O achincalhe cada vez aumenta mais.
Depois de serem nivelados a cozinheiros pelo presidente da mais alta corte judiciária do país, os jornalistas agora são humilhados em plena praça pública. Na bela Ouro Preto, dia desses, um rábula de porta de cadeia brigou com alguns repórteres, aos quais se referiu, no calor da refrega, como "vagabundos" e "despreparados", para, num xingamento final e definitivo, proclamar em alto e bom som: "Vocês sequer têm diploma."
Está certo que a imprensa brasileira faz o possível para merecer, de qualquer pessoa com médio senso de observação, grandes reparos. Este último caso de linchamento moral a que submete o presidente do Senado, José Sarney, por exemplo, é apenas mais um episódio na longa série de desvios em sua trajetória, iniciados especialmente no governo Lula.
É fato notório que Sarney representa tudo o que de pior exibe a política tupiniquim. Mas atribuir a ele todos os males de uma instituição viciada desde há muito é demais. Ou melhor: mostra cabalmente que a imprensa pode ser tanto um instrumento essencial para o aperfeiçoamento democrático como o oposto - um reles mecanismo de manipulação ideológica.
Nestes últimos tempos tem sido assim: nossa mídia, infelizmente, está a serviço de uma oligarquia que odeia o atual ocupante do Palácio do Planalto e tudo faz para tirá-lo de lá. Nem que para isso tenha de usar todos os mais sujo truques de seu repertório.
Muito se criticou o diretor de redação do Estadão quando ele afirmou, a propósito da transparência do blog da Petrobras, que a edição é necessária e vital no bom jornalismo. Mas ele está certo. Faltou apenas dizer a quem serve esse bom jornalismo a que se referiu. No seu próprio caso, não há nada a acrescentar: o Estadão seria incapaz de não editar numa notícia, pois seu público exige que ela saia com todos os elementos que a fazem sempre uma obra de louvor aos bons princípios neoliberais, de amor extremado ao mercado e a tudo o que ele representa.
E tem sido com esse tipo de jornalismo editado, enviezado - errado, enfim -, que a sociedade brasileira tem se relacionado nos últimos tempos.
Talvez por estar tão acostumado com tais procedimentos é que o presidente do Supremo tenha opinião tão pouco lisonjeiro dos jornalistas. Ele certamente deve pensar, ao ler os jornais e revistas, assistir à televisão, ouvir rádio e passear pela internet, que jornalismo é isso mesmo: reflexo de um mundo com vilões e heróis perfeitamente definidos, bons e maus sempre de lado opostos, o branco nunca se misturando com o preto.
É que ele não sabe o poder que tem uma boa edição.

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