sexta-feira, 8 de maio de 2009

No meio do lixo

Aos poucos surgem na imprensa pessoas capazes de pôr as coisas no lugar no que se refere ao assunto que agora domina o noticiário. Como o antropólogo e historiador Cláudio Bertolli e o médico Stefan Cunha, que falaram à Agência Brasil. Vale reproduzir a nota, na qual eles abordam questões geralmente deixadas de lado pelos jornais, mais preocupados em chocar as pessoas do que em realmente informá-las:
O destaque dedicado à gripe suína nos meios de comunicação acaba deixando de lado outras doenças, algumas até mais letais. A afirmação é do antropólogo e historiador, Cláudio Bertolli, para quem a explicação é o fato de a gripe ser uma doença nova. 
Além disso, lembrou Bertolli, existe ainda uma forte referência no imaginário popular com relação aos 26 milhões de mortos, em decorrência da gripe espanhola, em 1918.
A grande cifra de mortos da pandemia ocorrida na segunda década do século 20 remete à “peste” e ao “apocalipse”, presentes na tradição judaica e na cristã. Segundo Bertolli, como o novo vírus ainda é desconhecido, traz um temor que esta doença possa “colocar em xeque” a existência da civilização humana. “Ao lado de uma epidemia biológica, há sempre uma epidemia de medo”, destacou.
Por isso, apesar de não ter casos confirmados no Brasil
(a notícia é anterior à informação da existência de quatro casos), a gripe acaba sobrepondo a atenção dedicada à dengue, que só no estado da Bahia matou 49 pessoas e e registra 50 mil casos. Para o antropólogo, isso se motiva principalmente pelo fato do “discurso midiático ser um discurso espetacular”. Na avaliação de Bertolli, os veículos de comunicação tratam de assuntos que fogem do comum, daquilo que é conhecido.
Também estudioso da história das epidemias, o infectologista Stefan Cunha destacou outro fator que faz com que a gripe suína cause mais temor: a cobertura  “em tempo real” da evolução do número de casos.
Segundo ele, ainda é cedo para determinar a capacidade de contaminação e a letalidade do novo vírus. Apesar de os números atuais indicarem para uma taxa de mortalidade de aproximadamente 2,5% (pouco mais de 2 mil casos e 42 mortes), Cunha explicou que as características da população mexicana contaminada podem ter elevado o número de mortes naquele país. “O que a gente acha é que a população dos mortos no México é uma população mais debilitada”, destacou.
A comunicação globalizada, a capacidade de monitoramento em tempo real, os antibióticos e as drogas antivirais são avanços que não estavam presentes na época da pandemia de gripe espanhola e, agora, ajudam a combater a gripe suína. De acordo com Cunha, essas medidas, em conjunto com as ações para evitar a disseminação da doença, podem diminuir o possível número de mortos da doença.
O antropólogo Bertolli observou ainda que, em função das evoluções tecnológicas e médicas, há uma tendência de queda na capacidade letal das epidemias ao longo da história.
Informações sérias a respeito do assunto estão disponíveis no site do Ministério da Saúde. Quem quiser se informar realmente não deve perder tempo lendo jornais: quase tudo o que publicam sobre o tema não passa de lixo sensacionalista. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário