Os canais da TV paga volta e meia exibem o filme "Serpico", dirigido por Sidney Lumet, com Al Pacino no papel do policial nova-iorquino que quase é morto porque, além de não aceitar suborno, resolveu denunciar a prática, que era generalizada na polícia da cidade.
"Serpico" é um bom filme baseado numa história real. E é comovente ver que a luta praticamente solitária do detetive tem um final feliz - antes de pedir demissão da Polícia de Nova York, Frank Serpico foi distinguido com a Medalha de Honra, a mais alta condecoração da corporação.
A atitude do atual secretário de Segurança de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, que afastou 120 policiais de duas delegacias por suspeitar de envolvimento em crimes de extorsão, corrupção e ligação com o crime organizado, além de trazer à memória o filme de Lumet, dá esperança aos cidadãos comuns de ver esse importante setor da sociedade começar a funcionar de acordo com a sua finalidade.
Isso porque a segurança pública de São Paulo, o Estado mais rico da federação, está hoje talvez no ponto mais baixo de sua história. As imagens do confronto entre policiais civis e militares às portas do Palácio do Bandeirantes ainda são nítidas o suficiente para atestar a catástrofe que é a gestão da segurança pública paulista.
Ferreira Pinto diz que o combate à corrupção policial é uma de suas prioridades. Segundo ele, "só poderemos ter uma polícia eficaz no combate à criminalidade se reduzirmos os índices de corrupção que existem". Ele considera "um acinte" o delegado que vai trabalhar de BMW ou Audi, carros que não poderiam comprar com seus salários, de R$ 7.000 em média para os que estão há dez anos no cargo.
Sessenta dos policiais afastados são do Denarc, o Departamento de Investigações sobre Narcóticos, e o restante do Deic, o Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado. No caso do Denarc, havia a suspeita de ligação de policiais com o tráfico de drogas. No caso do Deic, a secretaria tinha indícios de que policiais davam cobertura a ladrões de carga.
O próprio ex-chefe do Denarc, delegado Everardo Tanganelli Jr., está sob investigação do Ministério Público sob suspeita de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Ele ganha um salário de R$ 8.000 e teria um patrimônio de R$ 4,5 milhões, segundo promotores.
Tanganelli Jr. foi substituído pelo delegado Eduardo Hallage, considerado por Ferreira Pinto como "um símbolo" da polícia. Ele ficou afastado seis anos da cúpula da polícia por se negar a prestar favores a seus superiores.
É, a vida não é fácil para quem quer ser honesto. Tanto aqui como nos Estados Unidos.
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