sábado, 18 de abril de 2009

Recomeço

O clima desta 5a Cúpula das Américas foi surpreendentemente amistoso. Tão fraterno que até houve brincadeiras entre Hugo Chávez e Barack Obama. 
Apesar de toda essa camaradagem, o presente que Chávez deu a Obama, o consagrado livro de Eduardo Galeano "As Veias Abertas da América Latina", sucesso absoluto entre o público de esquerda desde os anos 70 (a minha edição é a 4a, de 1978, portanto de 31 anos atrás), fala de coisas sérias.
Obama provavelmente não conhece a obra - a América Latina não é a sua especialidade, embora tudo indique que ele dedicará muito mais atenção à região do que seus antecessores. 
Galeano não é propriamente um historiador acadêmico. É antes um escritor de notável sensibilidade social: "As Veias Abertas" conta a história da América Latina sob o ponto de vista do oprimido, do espoliado. 
É uma história de tragédias, mas também de superação; de fracassos, mas também de resistência heróica; de pobreza e, contraditoriamente, de muita, de imensa riqueza.
Se o presidente Barack Obama se dispuser a fazer uma leitura rápida do livro de Eduardo Galeano talvez se surpreenda com trechos como esse abaixo, um resumo de como se criaram esses seus vizinhos do andar de baixo:
"Para os que concebem a história como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso. Perdemos; outros ganharam. Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial. Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transforma em sucata e os alimentos se convertem em veneno."
Ainda é muito cedo para saber o que a mais poderosa nação do mundo fará em relação aos seus esfarrapados irmãos latinos, agora que tem no comando um homem que parece disposto, pelo menos, a ouvir o que os outros têm a dizer.
De qualquer forma, é ótimo para todos que o diálogo tenha se iniciado da maneira como essa Cúpula mostrou: sem ameaças nem imposições, como deve ser entre lideranças sérias e bem intencionadas.

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