quinta-feira, 23 de abril de 2009

O homem da língua solta

Notícias dão conta que o deputado Ciro Gomes reagiu raivosamente ao ser perguntado sobre a "farra das viagens" patrocinada pelo dinheiro público aos amigos e familiares dos parlamentares. Antes de encontrar os jornalistas para uma entrevista coletiva, Ciro negou, em plenário, que tivesse emitido passagens de sua cota aérea para a sua mãe ir a Nova York: "Trata-se de leviana e grosseira mentira aquilo que foi feito, envolvendo pelo menos o nome de minha mãe, octogenária." 
Minutos depois agiu menos tranquilamente e disse o seguinte aos jornalistas, que creditaram a informação ao Ministério Público: "Ministério Público é o caralho! Não tenho medo de ninguém. Da imprensa, de deputados. Pode escrever o caralho aí."
No mesmo tom, criticou as medidas anunciadas pela presidência da Câmara, que vetam o uso da cota para familiares, chamando alguns colegas, sem dar nomes, de babacas: "Até ontem era tudo lícito, então por que mudou? É um bando de babacas."
Em referência ao deputado Fernando Gabeira, Ciro afirmou, sem citá-lo explicitamente, que existem parlamentares que "se dizem do grupo dos éticos, mas dão passagens aos seus parentes".
Todos sabem do tremendo esforço que Ciro Gomes vem fazendo para ocupar novamente o noticiário e se impor como nome viável ao pleito presidencial de 2010. Quer ser uma opção a Dilma Rousseff e José Serra. E assim vai, boquirroto, aos trambolhões, espalhando pelo país uma ética de fanfarrão de boteco, uma valentia de coronel sertanejo, uma educação de menino travesso - e um vocabulário de malandro de rua.
Há quem goste desse seu estilo. Para esses, Ciro mostra uma autenticidade incomum no homem público. O problema é que tal temperamento pode ser confundido com um histrionismo vulgar, mero artifício para capturar a simpatia alheia.
Há horas, porém, que parece existir um outro Ciro Gomes além desse deputado com rompantes de indignação seletiva, além dessa exuberante figura que corteja como poucos os microfones e as câmeras.
É quando mostra algum indício de ser um parlamentar que compreende perfeitamente as suas funções. Na mesma tumultuada coletiva em que se comportou tal qual um bufão, foi capaz de lançar no ar um intrigante desafio aos jornalistas que apresentaram levantamentos  comparando os gastos do Legislativo brasileiro com os de outros parlamentos internacionais:
"Estou aqui querendo me referir a essa sanha violenta, intimidatória. Estou defendendo uma questão republicana. Os americanos têm direito à passagem? Têm. O parlamento americano tem cartão sem limite para a viagem do parlamentar. A França tem custos pagos pelo contribuinte francês? Tem. A Suécia tem? Tem. A Dinamarca tem? Tem. Todos os parlamentos têm. Isso falta ser explicado ao povo brasileiro", disse.
Pode até ser verdade e é realmente um ponto importante para ser debatido. 
Mas, caro Ciro, em que país você vive?
Este é o Brasil, um dos campeões mundiais da corrupção, onde, antes de tudo, deputados deveriam dar bons exemplos para o povo - e não justificativas para seus constantes deslizes, para seus inúmeros crimes.

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