quinta-feira, 12 de março de 2009

Meio cheio, meio vazio

Os números aí estão para serem manipulados. Sempre foi assim - e, pelo visto, sempre será. A Fiesp, por exemplo, a julgar por um estudo que divulgou nesta semana, logo depois da notícia de que o PIB do último trimestre de 2008 contraiu-se 3,6% em relação ao trimestre anterior e que o PIB do ano passado cresceu 5,1%, diante de 5,7% em 2007, vê o Brasil destruído, arrasado, em frangalhos.
O trabalho concluiu que o país é o segundo mais prejudicado pela crise internacional. Em comparação com vários países, entre os quais Alemanha, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Canadá, China, México e Coréia, o Brasil foi o que apresentou maior retração acumulada do PIB desde o início da desaceleração da economia mundial.
A Fiesp explica que o Brasil acumulou queda de 5,3 pontos percentuais do PIB (soma de todos os bens e riquezas produzidos no País) desde que a crise começou a afetar seu crescimento, no fim do ano passado. De um crescimento de 1,7% ocorrido no terceiro trimestre de 2008, o país apresentou variação negativa do PIB de 3,6% do quarto trimestre.
Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram diferença acumulada de 2,8 pontos percentuais negativos. De um crescimento de 1,2% no terceiro trimestre de 2007 - o último antes do início da desaceleração - o país fechou o quarto trimestre de 2008 com queda de 1,6% no PIB. No Japão, a variação foi negativa em 4,2 pontos percentuais e na Zona do Euro, de menos 2,2 pontos.
Levando em consideração as premissas do estudo, o Brasil só tem melhor resultado do que a Coréia, que acumula diferença de 7,2 pontos percentuais. O resultado, porém, foi acumulado em quatro trimestres de retração da economia. No Brasil, isso ocorreu em um trimestre.
"O que sente a sociedade são os pontos percentuais de queda do PIB", afirmou Paulo Francini, um dos responsáveis pelo estudo. "O Brasil, em termos de amplitude e em termos de prazo, não tem paralelos."
Uma beleza de estudo, esse da Fiesp. Mas basta mexer um pouco os números para ver que ele não é assim tão belo. José Augusto Valente, em seu blog Logística e Transportes prova isso:
"O que dizem os números relativos ao PIB, levantados pelo IBGE?
Apesar da crise financeira dos EUA, com fortes repercussões na Europa e na Ásia, a economia brasileira cresceu 5,1% em 2008.
No ranking das economias que tiveram as maiores taxas de crescimento do PIB (2007/2006), o Brasil subiu do 16º para o 11º lugar.
Ainda nesse ranking, o Brasil foi o país que teve a menor redução da taxa de crescimento do PIB. É esse percentual e não o de redução do quarto em relação ao terceiro trimestre, que mostra o nível de desaceleração da economia. Para a China cair de 11,9% para 9,0%, a queda entre o quarto e o terceiro trimestre de 2008 deve ter sido, no mínimo, o dobro do que os números do Brasil.
O Brasil reduziu 10,5% (caindo de 5,7% para 5,1%), a China reduziu 24% (caindo de 11,9% para 9,0%), a Rússia reduziu 23,5% (caindo de 8,1 para 6,2%), a Índia reduziu 21,5% (caindo de 9,3% para 7,3%). Nessa lista, somente a Malásia e a Indonésia tiveram uma redução do PIB menor que o Brasil, com 7,9% e 3,2%, respectivamente.
Ou seja, a redução da taxa de crescimento do PIB de 3,6%, do quarto em relação ao terceiro trimestre mostra o óbvio: todas as economias foram afetadas pela crise financeira dos EUA. A redução da taxa de expansão do PIB em apenas 10,5%, quando a maioria dos países desenvolvidos tiveram essas taxas superiores a 20%, mostra que a economia brasileira foi bem menos afetada pela crise, seja pela sua solidez, seja pelas medidas do governo federal e de alguns governos estaduais para mitigar os seus efeitos." 

Pronto. É sempre a velha questão do copo com água pela metade. O pessimista o vê meio vazio, o otimista, meio cheio. 
A Fiesp, mais uma vez, mostrou de que lado está.

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