quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Igual às outras

A decisão da Embraer de demitir 20% de seu quadro de funcionários, assim de uma vez, sem contestações, sem discussão, sem mostrar a quem quer que seja qualquer prova da necessidade do ato - como se apenas a justificativa dada pelos seus porta-vozes fosse suficiente -, causa indignação, mas segue rigorosamente a lógica dessas empresas nascidas no ambiente capitalista mais primitivo, que é dar, antes de mais nada, lucro aos seus acionistas.
Lembro quando o Estadão, no qual trabalhava anos atrás, divulgou aos seus empregados seu código de ética e conduta. Ao explicar a sua missão, dizia a de ser "um grupo empresarial rentável nos setores de informação e comunicação, nos segmentos de jornalismo, de serviços de informação, divulgação de publicidade, entrenenimento e serviços gráficos".
No texto do tal código há ainda um parágrafo sobre o dever de "defender os princípios da democracia e da livre iniciativa" e mais nada sobre os princípios básicos do jornalismo, enquanto atividade imprescindível ao desenvolvimento humano.
A Embraer, assim como o Estadão e tantas outras empresas, seja lá de que atividade for, pouco, ou nada, entende sobre o que deve - ou deveria - ser o seu papel numa sociedade democrática.
As empresas não existem sem dar lucro, qualquer idiota sabe disso. Mas elas são antes de tudo, movidas a sangue, suor, lágrimas, são um organismo vivo, com emoções e sentimentos, um microcosmo integrado por complexas relações pessoais. Até hoje, apesar de todo o avanço da tecnologia, não se tem notícia de nenhuma unidade fabril inteiramente automatizada, que prescinda do trabalho do homem.
Uma empresa, portanto, vive por e para os seres humanos. Seus produtos são feitos pelos homens e se destinam a eles. E, para que haja o lucro, a recompensa maior do capitalista, é preciso existir um mercado saudável, com consumidores em número suficiente para comprar as mercadorias. 
Assim, pode-se dizer que a função da empresa é estritamente social, pois ela alimenta o mercado de várias maneiras, não só por meio daquilo que produz, mas da riqueza que gera.
Com a decisão de demitir mais de 4 mil funcionários sob a justificativa de que depende do mercado externo e não do interno, a direção da Embraer traiu sua própria história - afinal, a empresa nasceu com a intenção de dar ao país o domínio de uma atividade estratégica, de ser um polo importante de inovação tecnológica. Ao pôr na rua tantos profissionais, simplesmente mostrou que é apenas uma a mais entre tantas outras empresas que buscam apenas aumentar a conta bancária de seus donos - e, por isso mesmo, não merece mais ter todas as benesses oficiais com que foi distinguida até hoje.

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