quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O pensamento é uma coisa à toa

Pródiga em criticar toda e qualquer ação do governo, a Fiesp surpreendeu ontem à noite os jornalistas que recebiam a notícia da decisão do Copom de baixar um ponto percentual a taxa Selic.
É que, no release distribuído às redações minutos depois do encerramento da reunião do Comitê de Política Monetária, o presidente da entidade, Paulo Skaf, dizia que “ao reduzir a Selic em um ponto percentual, o Copom sinaliza que a política monetária brasileira mudou. E isso é positivo. Esperamos, entretanto, que esta queda seja o início de um rápido processo capaz de tornar os juros no Brasil equivalentes às taxas praticadas em todo o mundo. Só assim, poderemos ser mais competitivos na economia globalizada”.
Nada menos skafiano: se há algo que este ilustre e poderoso brasileiro não tolera é, pela ordem, pagar impostos e, a seguir, juros altos. E, convenhamos, 12,75% ao ano ainda é, sob todos os aspectos, uma taxa fora dos padrões civilizados. 
O arrependimento por ter sido tão condescendente com a decisão do Banco Central foi quase instantâneo. Cerca de dez minutos depois de enviada a primeira nota oficial, outra, com o aviso de "Errata" aportou nos computadores.
Nela, Skaf havia voltado a ser Skaf: “Ao reduzir a Selic em um ponto percentual, o Copom demonstra que a política monetária brasileira mudou. E isso não é ruim. Esperamos, entretanto, que esta queda seja o início de um rápido processo capaz de tornar os juros no Brasil equivalentes às taxas praticadas em todo o mundo. O ideal é chegarmos, o quanto antes, a 8% ou 9%. Só assim poderemos ser mais competitivos na economia globalizada."
Pior que a mudança no corpo do release só mesmo as alterações feitas no cabeçalho, espécie de síntese do pensamento skafiano.
Primeiro, o original:
Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, recebe com otimismo a redução de um ponto percentual, pelo Banco Central, na taxa básica de juros. Mas, alerta que o Governo não deve ficar só nisso. “Há outras medidas importantes a serem tomadas, em especial neste quadro de crise”, disse Skaf ao saber da queda na Selic.
Agora, a "errata":
Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, redução de "apenas um ponto percentual na taxa básica de juros - sem viés de baixa que nos leve, rapidamente, ao ideal de 8% a 9% - não atende os interesses do Brasil, em especial neste momento de crise. Não podemos esperar 45 dias para uma nova queda".
Dizem que o homem incapaz de mudar suas opiniões demonstra, além de intransigência, um grau de estupidez além da normalidade característica do ser humano. Mas o que falar de alguém que muda de opinião com uma rapidez digna dos heróis das histórias em quadrinhos? 
O ar-condicionado daquele castelo encravado na Avenida Paulista deve ter poderes desconhecidos por nós, simples mortais.

Um comentário:

  1. Sobre isso há um livro do empresário Ricardo Semler, crítico mordaz da Fiesp, cujo título é "Você Está Louco".
    Nesse saltério Semler se refere à entidade como "a pirâmide maia na Paulista 1313".

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