domingo, 18 de janeiro de 2009

A morte nas ruas

São Paulo deve ser uma das capitais mais cruéis do mundo. Ela pune quem a habita de diversas maneiras. É feia, suja e violenta. Tem raros equipamentos de lazer e de cultura, rede escolar e de saúde deficientes, uma quantidade crescente de sub-habitações. E um sistema de transporte caótico, que agrava todas as suas mazelas.
Na semana passada, um ônibus matou uma ciclista em plena Paulista, a avenida que é vendida como quintessência da civilização, centro financeiro do Brasil, e onde desponta, como símbolo de nossa "modernidade", aquele horroroso prédio-sede da Fiesp.
Isolados por grossos vidros e por uma considerável distância do solo, os freqüentadores desse templo do deus capital não devem ter notado nada de anormal naquele dia em que a ciclista foi atropelada.
Fazia calor, muito calor, e o seu corpo ficou mais de 4 horas no meio fio, exposto a todo tipo de poluição e de curiosidade dos passantes. Mas os homens da Fiesp não viram nada disso. Estavam, certamente, preocupados em fazer as contas de quanto a crise econômica global tem afetado seus lucros.
No dia seguinte, foram informados pelos nossos jornalões que a ciclista de 40 anos era só mais uma vítima da barbárie cotidiana exibida nas ruas de São Paulo. Um número a mais, apenas: no ano, desde outubro, morreram na cidade, 55 ciclistas.
Por dia, o trânsito paulistano assassina 4,3 pessoas e fere outras 72, em média. Mais um pouco de estatística: em 2007 houve 12,48 mortes para cada cem mil habitantes, num total de 1.352. Em 2006, a taxa era de 12,31, ou 1.328 em número absoluto. Não há indícios de que os números de 2008 tenham melhorado.
As mortes causadas por motoristas despreparados, embriagados, mal-educados, com a cumplicidade de autoridades incompetentes e corruptas, são absurdas porque poderiam ser evitadas.
Ao contrário de outras epidemias, essa não é causada por nenhum vírus ou bactéria e tampouco depende de medicamentos caros para ser debelada. Basta apenas o que vulgarmente se chama de "vontade política" - ou algo semelhante a isso.
Na verdade, essas mortes estúpidas poderiam não ocorrer - pelo menos num número tão eloqüente - se as autoridades fizessem um mínimo de esforço para que isso não acontecesse.
Leis para tanto não faltam. Mas parece que elas foram feitas para não serem aplicadas.

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