Na fazenda, o garoto começa a desbrochar para a vida, e o velho, Pepe, graças à sua companhia, volta a se sentir vivo. A relação dos dois é transbordante de afeição - e de lições de racismo. Acontece que Pepe é daqueles antisemitas que odeiam os judeus por razões atávicas. Ele explica a Claude que a raiz de todos os problemas da França (detalhe: Pepe admira o marechal Pétain na mesma proporção que odeia os "bolchevistas") tem como origem esses seres conhecidos por seus narizes curvos como ganchos, por cheirarem mal e por seus pés chatos. "Reconheço um judeu de longe", diz Pepe a um Claude fascinado pela sua conversa.
O filme mostra o relacionamento entre as pessoas com tanta sutileza que deixa no ar inúmeros pontos de reflexão. O principal, porém, é mesmo a desimportância do conceito de raça.
Os seres humanos, diz Berri em sua obra, são um só e podem se entender apesar das diferenças religiosas (Claude, para não mostrar que é judeu aprende a rezar o "Pai Nosso"), culturais (para agradar ao velho, vegetariano, ele recusa o pato temperado com mostarda servido no almoço), de idade, sexo, cor ("ontem foram os alemães, hoje são os negros americanos que estão na França", diz o velho, ao ver seu vilarejo festejar a liberação).
Não estou certo, mas parece que o filme é autobiográfico. Se não, pelo menos foi inspirado por um fato real. E isso o torna mais ainda mais importante, porque nos faz ter a esperança de que aquilo que ocorre hoje na inóspita e miserável Faixa de Gaza, envolvendo judeus e palestinos, seja apenas um ato de loucura, conduzido por lideranças desvairadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário