quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O jabá da Fiesp

Não há jornalista que não tenha recebido, alguma vez, um jabá. É que, tradicionalmente, as empresas, no fim de ano, mandam brindes para as redações.

Alguns são singelos, outros exagerados. No Estadão, certo ano, uma repórter que cobria a área de consumo assustou-se quando um contínuo a avisou que tinham deixado para ela, na portaria, uma máquina de lavar roupa. De maneira polida, ela informou a empresa que aquilo não era um jabá, mas quase um suborno.

Em tempos de crise, as empresas se mostram mais comedidas. Nessa perspectiva, o brinde que a Fiesp, a mais poderosa entidade empresarial do Brasil, deu para os jornalistas que foram ao seu almoço de fim de ano seria normal: eles voltaram às redações com três míseros lápis (com borracha numa das pontas), algo totalmente inútil nestes dias de computador.

Quando a repórter que teve de ouvir as lamentações dos empresários sobre o momento econômico atual e suas previsões catastrofistas para o próximo ano me mostrou o jabá, contive a risada e pouco refleti sobre a questão. Achei apenas que eles poderiam expressar sua insatisfação de um modo menos explícito.

Foi só à noite, ao chegar em casa, que dei a real importância ao jabá da Fiesp. É que vi, na mesinha em que coloco as chaves, dois objetos: uma caixinha de madeira toda decorada e uma embalagem de papelão com uma folhinha dourada de 2009, ofertas do Empório da Léia, excelente estabelecimento comercial que fica a uns 200 metros de onde moro e no qual compro queijos ótimos pela metade do preço que os supermercados cobram.

Antes de dormir, pensei que alguma coisa está bem errada neste país em que ricos capitalistas desejam feliz ano novo dando três lápis de presente aos profissionais que moldam a sua imagem diariamente, e em que a Léia, do modesto empório do bairro, compra bonitas caixinhas de madeira decoradas para presentear seus fregueses.

Talvez fosse uma boa idéia a Léia explicar a esses probos, dignos, responsáveis, eficientes e patriotas capitães de indústrias, como funcionam as coisas no Brasil real - um lugar onde as pessoas não perdem nunca a esperança.

3 comentários:

  1. A Fiesp ainda está vivendo nos anos cinqüentas do século 20.
    O Ricardo Semler, que já foi vice-presidente da dita-cuja, mostra bem as bobagens que se comentem ali no seu livro Você Está Louco.
    Com seu típico sarcasmo ele se refere à entidade como "aquela pirâmide Maia na Paulista 1313".

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  2. É, Roberto,
    um banho de vida real poderia dar a essa turma uma perspectiva diferente do que se passa no Brasil atualmente.
    Mas acho que esse pessoal prefere o ar-condicionado da "pirâmide maia"...
    Abraço,
    Motta

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  3. É, Roberto,
    um banho de vida real poderia dar a essa turma uma perspectiva diferente do que se passa no Brasil atualmente.
    Mas acho que esse pessoal prefere o ar-condicionado da "pirâmide maia"...
    Abraço,
    Motta

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