sábado, 29 de novembro de 2008

Os bons brasileiros

Um dos meus primeiros chefes era uma pessoa calma, de ar circunspecto, afável. Escrevia uma coluna diária, sob pseudônimo, sobre a política e o dia-a-dia da Jundiaí dos anos 70.

Anos depois de conhecê-lo, fiquei sabendo que esse respeitável cidadão já havia sido processado por estelionato.

Na mesma Jundiaí, tive um vizinho, excelente sujeito, muito educado e prestativo, que estivera preso vários anos por chefiar uma quadrilha. Num dos assaltos um comerciante foi morto. Essa pessoa, antes de ser condenada, era, como meu antigo chefe, um proeminente membro da comunidade - havia até mesmo sido indicado por um vereador para receber o título de Cidadão Jundiaiense.

Histórias como essas são bem comuns, tanto na arte como na vida real. Nem por isso deixam de ser interessantes, exemplares até.

Mostram que, neste mundo, nem tudo é o que aparenta ser.

Dias desses, por exemplo, dois senadores da República denunciaram um fato que, em outras circunstâncias, seria extremamente grave.

Disseram, no tom solene e peremptório que essas ocasiões exige, que a a Petrobras, maior empresa do país, uma das maiores do mundo, orgulho da nação, estava quebrando.

Claro que, no dia seguinte, só se falou disso nas altas rodas políticas e econômicas. Gastou-se muita tinta, muita saliva, muita energia, na repercussão da grave notícia.

Convoque-se fulano, intime-se sicrano, ordene a beltrano que venha nos explicar o que ocorre com a jóia da coroa, bradaram os insígnes senadores do alto da tribuna.

E poucos perceberam que essas eloqüentes palavras na verdade queriam dizer apenas "ótimo, arranjamos mais uma confusão para o governo".

Porque este é o plano da oposição para vencer em 2010: sustentar uma crise interminável.

É uma guerra em que vale tudo.

E na qual os soldados mais perigosos são esses que lutam camuflados de bons brasileiros.

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