sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Falso dilema

Dia desses, o escritor Luís Fernando Veríssimo disse, em um programa de televisão, que, petista histórico, estava decepcionado com o governo Lula. Apesar disso, afirmou, procurava diferenciar suas críticas daquelas feitas pela oposição em geral e que, para ele, esse era o seu grande desafio nessa questão: como criticar Lula sem cair na vala comum dos ataques hidrófobos da direita raivosa.

O dilema de Veríssimo parece ser o de grande parte da chamada intelectualidade de esquerda. Desde o primeiro governo, foram muitos os que abandonaram o barco do petismo sob a alegação de que Lula e seus companheiros haviam traído os ideais do partido. 

O assunto dá uma tese. Esta é apenas uma pequena crônica que toca nele de modo superficial. Mesmo assim, é possível levantar algumas reflexões que podem ajudar a ir mais fundo na discussão. Na seqüência, vão dez pequenos tópicos:

1) O PT nunca definiu o tipo de socialismo que pretendia adotar quando chegasse ao poder. O projeto era vago e sempre foi alvo de acalorados debates entre as várias tendências políticas que se abrigaram no partido.

2) Lula também nunca se colocou como socialista - no máximo como um líder do campo da esquerda. Sua contribuição teórica ao partido é praticamente inexistente. Sempre foi um adepto da praxis, um intuitivo que soube amalganar em sua atuação política os elementos contraditórios que se chocavam ao seu redor.

3) Os intelectuais têm o péssimo hábito de se julgarem donos da verdade - claro, a sua. 

4) A Carta ao Povo Brasileiro, divulgada antes da posse no primeiro mandato, mostrava amplamente os limites em que o novo governo iria atuar. 

5) Nenhum presidente pode governar sem estabelecer alianças com o Legislativo - a não ser que tenha ampla maioria na Câmara e no Senado. 

6) O papel da mídia na estabilidade institucional é muito grande e ela, na quase totalidade, está nas mãos de algumas poucas famílias que não têm o menor interesse em mudar o status quo.

7) A democracia brasileira ainda é um organismo frágil, imperfeito, em formação e traumatizado por experiências recentes desastrosas.

8) Apesar de sua fragilidade em vários aspectos, é inegável que, sob o governo Lula, o Brasil evoluiu em termos econômicos e sociais.

9) A populariade recorde alcançada pelo próprio presidente é prova da aceitação de seu governo pela esmagadora maioria da população.

10)  Por último, mas não menos importante: dá para imaginar como seria hoje o Brasil se Lula tivesse perdido a eleição para José Serra?

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