A Olimpíada de Pequim acabou, os atletas voltaram para casa, mas as discussões sobre o desempenho do Brasil continuam. Há quem ache que as 15 medalhas (3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze) não representaram avanço nenhum em relação às olimpíadas passadas. Nesse grupo de pessoas estão os que criticaram severamente o investimento feito para se conseguir tão pouco ouro - são os mesmos que, anteriormente, diziam que o país nada gastava com o esporte.
Há também os que, como o ministro do Esporte, Orlando Silva, acham que o Brasil não fez feio: “A participação do Brasil em Pequim foi boa. Estivemos duas vezes mais nas disputas finais (38), levamos a maior delegação da nossa história olímpica (277), batemos o número recorde de participação feminina (132) e houve a pulverização das modalidades (32). Estamos deixando a monocultura do esporte: não somos só o país do futebol”, avaliou.
A visão do ministro parece ser equilibrada. Ele vê além das medalhas de ouro. Infelizmente, a grande maioria segue padrões consagrados, porém distorcidos, como os dos próprios organizadores dos jogos, que apenas valorizam, no ranking de medalhas dos países, as de ouro. Trata-se de um critério, mas não o único. Na verdade, o Comitê Olímpico Internacional nada diz a respeito.
Um sistema mais equilibrado para avaliar o desempenho dos países poderia, por exemplo, estabelecer pontuação para as medalhas. Vamos supor que a de ouro valesse 10, a de prata, 7, e a de bronze, 5 pontos. Feito isso, fica fácil montar um novo ranking dos 20 melhores dos jogos de Pequim (em parênteses está a colocação "oficial", que só destaca o ouro):
1) Estados Unidos (2) - 806 pontos
2) China (1) - 797
3) Rússia (3) - 517
4) Reino Unido (4) - 356
5) Alemanha (5) - 305
6) Austrália (6) - 300
7) França (10) -267
8) Coréia do Sul (7) - 240
9) Itália (9) - 200
10) Japão (8) -182
11) Ucrânia (11) - 180
12) Cuba (28) -152
13) Espanha (14) -135
14) Bielorússia (16) -125
14) Holanda (12) - 125
16) Canadá (19) -123
17) Quênia (15) - 105
18) Brasil (23) - 98
19) Jamaica (13) - 91
20) Cazaquistão (29) - 85
Com esse sistema, há algumas trocas de posições sem muita importância e a valorização de países que obtiveram menos medalhas de ouro que outros, mas em compensação, tiveram mais medalhas de prata e bronze. Permite, assim, uma visão ampla do que cada um representa em termos esportivos. Os exemplos de Cuba e do próprio Brasil falam por si só: Cuba, que obteve apenas dois ouros, mas 11 pratas e 11 bronzes, estaria ocupando um honroso décimo segundo lugar, e o Brasil ficaria à frente da Jamaica, país que se destacou - e muito - apenas no atletismo.
Os Jogos Olímpicos são uma tradição cultural fortemente enraizada nos povos e uma excelente ocasião para se ganhar dinheiro e promover o marketing - de muitas e muitas coisas, inclusive do próprio esporte. Não devem ser encarados como algo definitivo sobre a capacidade dos países de produzir seres humanos fortes ou sadios.
Na grande maioria das vezes, o esporte de alta competição faz mais mal do que bem às pessoas. Países como a Índia, por exemplo, de rica história, são um fracasso esportivo monumental - pelo menos em termos olímpicos.
Tudo depende de como cada um deles encara seu próprio projeto de nação. Há os que usam o esporte como mera propaganda, outros como indutor de projetos de inclusão social, e até mesmo como forma de gastar menos na saúde pública.
O problema do Brasil é que por aqui tudo ainda está meio confuso. A pressão para que se crie uma fábrica de campeões é grande, mas existe quem pense que, por enquanto é preferível que o país simplesmente seja capaz de levar o esporte para quem quer apenas praticá-lo.
Como tudo o mais, o esporte no Brasil é ainda um projeto em formação.
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