O homem comum levanta cedo para trabalhar muito o dia todo. É uma vida difícil essa do homem comum. Ele já pensou em largá-la, mas para isso teria de, ou ganhar na loteria, ou receber uma herança, ou, hipótese talvez mais difícil que as anteriores, ser contemplado por um milagre daqueles bem grandes e irrefutáveis.
Como nenhuma das três alternativas anteriores tem chance de se concretizar, o homem comum continua a ver televisão, a torcer para seu time não ser rebaixado, a dar broncas nos filhos, a comer frango de televisão no domingo, a ir de vez em quando ao Ibirapuera, a prometer fazer exercícios e a economizar para passar férias no Nordeste pela CVC.
E assim o homem comum passa seu tempo, nesse desfile de banalidades, coisas sem graça, pequenas injustiças e grandes desilusões.
Algumas vezes, poucas, é bem verdade, o homem comum se sente realmente feliz. São momentos inexplicáveis. Podem ocorrer a qualquer hora, sem que o homem comum faça algum esforço extraordinário. Isso acontece quando, por exemplo, o goleiro de seu time pega um pênalti num jogo decisivo, ou quando quita o financiamento interminável da geladeira comprada na Casas Bahia.
Como se vê, o homem comum se contenta com pouco. Tão pouco que ele explode de alegria ao ver certas coisas funcionarem como deveriam, tais quais o banco não ter fila, o ônibus passar no horário, a caixa do supermercado ser gentil, ou os ladrões irem presos.
Por isso esse nosso homenzinho comum ficou com a alma lavada ao ver no noticiário da televisão as imagens de alguns larápios que se disfarçavam de cidadãos acima de qualquer suspeita serem, como se diz popularmente, levados para tocar piano na delegacia.
Esse foi um momento de suprema satisfação para o homem comum: fez com que acreditasse, pelo menos por um instante, que estava vivendo num mundo mais justo, mais igualitário, melhor, enfim.
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