Então é assim no Brasil. A Polícia Federal faz o que deve fazer, investiga e prende para, depois, a justiça soltar.
Não existe, até hoje, episódio mais exemplar de como as coisas funcionam no Judiciário deste país do que este da soltura relâmpago de Daniel Dantas e auxiliares.
O Supremo Tribunal Federal, na figura de seu presidente, Gilmar Mendes, que assinou a ordem, conseguiu a façanha de desmoralizar, de uma só e definitiva vez, não só a instituição que preside, como todo o Judiciário.
Não é pouco.
Anos atrás, o mesmo tribunal deu liberdade para outro "banqueiro", chamado Salvatore Cacciola. Solto, a primeira coisa que vez foi fugir do Brasil para gargalhar, durante vários anos, dos tolos que o haviam prendido.
No decorrer das investigações que culminaram com a prisão da turma do Opportunity, alertado por uma reportagem da Folha de S. Paulo, Dantas tentou subornar os policiais. Para o STF, que o libertou, isso não significa absolutamente nada. Talvez Dantas tenha dado a Mendes a garantia de que, solto, vai ajudar as investigações, como bom cidadão que é.
Talvez Mendes tenha acreditado na palavra desse brasileiro que orgulha a pátria.
Como disse o senador Heráclito Fortes, do DEM do Piauí, tido e havido como um dos integrantes mais ativos da "bancada do Dantas", na vergonhosa sessão do Senado que se seguiu à prisão da turma, "pelo menos, sou da bancada de um bandido que produz, que gera emprego".
Foi nessa mesma sessão que outro notável expoente das liberdades democráticas, o senador Tasso Jereissati, tucaníssimo do Ceará, expôs sua preocupação com os destinos da pátria num discurso marcado pela emoção: “Corremos o risco de parecermos estar defendendo tubarões, criminosos de colarinho branco, milionários responsáveis por fraudes. Mas, quando está em jogo a dignidade do cidadão, o Estado de Direito brasileiro não podemos nos acovardar diante da probabilidade dessas falsas interpretações", disse.
Mesma ênfase teve o sempre progressista senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) na defesa dessas pessoas que trabalham e produzem pelo bem do país e são expostas dessa maneira aos arbítrios de um Estado policial. Para o ex-governador pernambucano, a Polícia Federal deve ser severamente criticada por algemar pessoas "que não oferecem perigo''.
Horas antes de assinar a soltura de Daniel Dantas, o presidente do STF já havia antecipado o que faria, ao dizer, bastante irritado, que a "espetacularização das prisões é evidente e dificilmente compatível com o Estado de Direito''.
Agora, alcançado o objetivo de tirar Dantas e auxiliares das celas, todos esses notáveis e doutos cavalheiros passam a ser, de certo modo, responsáveis pelas ações futuras do bando.
Com avalistas de tal quilate, porém, é quase certo que a justiça seguirá seu curso e tudo se ajeitará do melhor modo.
Afinal, sempre foi assim no Brasil.
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