O que mais impressiona no apagão da internet paulista patrocinado pela Telefônica não é a vulnerabilidade do sistema. Essa é a parte mais visível do problema e talvez o de solução mais imediata.
O que realmente deixa qualquer um atônito é a completa ignorância que a empresa tem do produto que vende. A ficha ainda não caiu para a Telefônica: a internet é hoje um serviço essencial, sem o qual dezenas de milhões de pessoas deixam de fazer as coisas mais triviais e necessárias para o dia-a-dia.
Talvez para os executivos da Telefônica a internet residencial não tenha muito importância. Provavelmente eles pensem que os assinantes do serviço Speedy sejam pessoas que percam seu tempo trocando e-mails tolos e mal-escritos ou acessando sites de jogos e pornografia.
No começo era mesmo assim: a internet não passava de um gigantesco parque de diversões, um entretenimento sem compromisso e que trazia novidades cativantes a todo instante.
Mas esse tempo acabou e, parece, a Telefônica não se deu conta de que a internet se transformou numa das mais importantes ferramentas de que dispõe o ser humano para desenvolver seu trabalho, sua educação, sua cultura, seu lazer.
Já se incorporou à vida e, como a energia elétrica, o telefone, a água, as notícias, o trânsito congestionado, o futebol, a televisão, faz parte inseparável do cotidiano. Ou será que os engravatados da Telefônica vivem sem essas coisas?
A proposta da empresa de abater na conta dos assinantes o dobro das horas que ficaram sem o serviço soa quase como uma afronta. É como se a Telefônica dissesse aos seus clientes algo do tipo "olha, vamos dar um descontinho e com isso estamos quites". Como se ela fornecesse gelo para esquimós: ninguém dará mesmo pela falta do produto, tal a sua inutilidade.
Os órgãos de defesa do consumidor e a agência reguladora do setor de telecomunicações deveriam, ao tomar as providências que o caso requer, ficar atentos a esse aspecto da questão: tão importante quanto apurar se a Telefônica tem capacidade técnica para prestar o serviço - e as evidências mostram que ela realmente é incapaz de fazê-lo - é saber se a empresa sabe que tipo de serviço está prestando.
O apagão, as evasivas explicações subseqüentes de sua causa e as ofertas de ressarcimento dos prejuízos indicam que a internet da Telefônica é como um enorme transatlântico pilotado por um mal pago e cansado motorista de ônibus urbano.
É a certeza do naufrágio.
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