O fracasso das negociações globais de comércio da chamada Rodada Doha é o retrato fiel do que é o mundo hoje. A força das chamadas economias emergentes não pode mais ser subestimada, nem o papel das velhas potências pode ser superestimado.
O choque entre Índia e Estados Unidos, que acabou com a rodada, é um marco na diplomacia: o ex-colonizado não se rendeu ao país mais poderoso do mundo.
O papel exercido pelo Brasil nos quase sete anos de discussões é um cala-boca aos críticos contumazes da política externa do país. O Itamaraty, nesse tempo todo, atuou como deve trabalhar um líder de verdade, organizando e mediando debates, propondo soluções e, principalmente, sendo uma voz ouvida e respeitada.
Com o naufrágio da rodada, o Brasil deverá procurar outras soluções para tirar o maior proveito possível de sua condição de gigante do agronegócio.
O fim de Doha não significa o fim das negociações, que podem ser entre países ou blocos. Os Estados Unidos, por exemplo, têm o maior interesse em conversar com o Brasil sobre temas variados. A União Européia já negocia um acordo com o Mercosul, que, por sua vez, dialoga com países africanos e terminou de fechar um tratado com Israel. O G-20, que reúne os principais emergentes exportadores agrícolas, continua sendo uma força respeitável. Enfim, não faltam alternativas à diplomacia brasileira.
Se alguém saiu chamuscado de Doha, não foi o Brasil. As negociações expuseram o fato de que o lobby protecionista dos Estados Unidos e da União Européia é extremamente poderoso e nocivo ao desenvolvimento harmônico de um comércio global que melhore as condições dos países mais pobres e traga mais justiça - social e econômica - ao mundo.
O jogo não terminou e os participantes são agora bem mais conhecidos uns dos outros.
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