domingo, 1 de junho de 2008

Pesadelo interminável

O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) planeja candidatar-se novamente à prefeitura paulistana, que já comandou por duas vezes. Entre os nomes citados é o mais rejeitado nas pesquisas de opinião pública. Mesmo assim, tem cerca de 10% das intenções de voto.
Há cerca de uma década, os eleitores fiéis de Maluf eram bem mais. Fosse qual fosse a eleição majoritária, ele começava com um terço do eleitorado, que naquele tempo era chamado de "malufista".
Sim, haviam os malufistas, como outrora a política brasileira teve os janistas, os ademaristas, os lacerdistas...
Maluf significava, antes de mais nada, um estilo político. Autoritário, populista, com fama de empreendedor, fazia os conservadores delirar. De certo modo, foi o herdeiro de Adhemar de Barros: "Rouba, mas faz", diziam de ambos.
Filho do golpe militar de 64, Maluf deitou e rolou enquanto os generais estiveram no poder. Abandonou os negócios privados e se dedicou à coisa pública. Gostou tanto da mudança e se dedicou com tal zelo à nova profissão que, com a redemocratização do país, viu abater sobre si uma chuva de denúncias de crimes variados, constantes do repertório de certa espécie de políticos.
Com o passar dos anos viu-se que as obras de que tanto gabava não eram assim tão importantes e acabaram beneficiando mais os grandes empreiteiros do que a população. A sucessão interminável de pendengas na Justiça teve como ápice uma embaraçosa e constrangedora temporada na prisão. E o jeito de xerife que o marcava à frente do Executivo acabou ficando fora de moda com a ascensão do modo tucano de governar, aquela esperteza que encanta a classe média paulista pelo seu discurso ambíguo e melífluo.
Apesar de tudo, com o resquício de prestígio que ainda possuía, conseguiu voltar para a Câmara dos Deputados, onde cumpre um apagado mandato.
Na onda da internet, chegou a lançar um blog. A última atualização data do dia 13 de março e traz um breve discurso sobre os juros da economia brasileira. Ele, como outros 180 milhões de pessoas, acha que as taxas são altas.
O blog tem ainda uma pesquisa : "O que você acha da lei do Agnaldo Timóteo de monitorar as cozinhas dos restaurantes?" Confrontado com as opções, um solitário leitor confessou ter dúvidas sobre a palpitante questão.
Mesmo assim, esquecido do noticiário, justamente ele que produziu tantas e tão marcantes manchetes da imprensa nativa, Maluf não desiste. E tenta a volta por cima, esolhendo o trânsito, a maior dor de cabeça do paulistano do momento, como mote para sua campanha.
"Vou construir uma laje sobre os rios Tietê e Pinheiros, com oito pistas para o trânsito. Entrego a obra em quatro anos", prometeu Maluf aos jornalistas. "Em três anos", corrigiu posteriormente.
A proposta, absurda sob todos os aspectos, não é chocante por si só. É preciso lembrar que, entre outras aberrações, Maluf construiu o Minhocão, aquela avenida suspensa que, de tão feia e sinistra que é, ofende a própria dignidade do ser humano. A idéia de tapar os rios, vinda de quem vem, é para se levar a sério. Por isso, mais do que chocar, ela assusta. Ao que tudo indica, o pesadelo malufista ainda não acabou.

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