Marta Suplicy já escolheu o trânsito como tema de sua campanha à prefeitura de São Paulo. Como foi em seu governo que ocorreram as mudanças mais significativas no setor nas últimas décadas, ela tem autoridade para falar sobre isso. Pretende, parafraseando um de seus adversários nesta eleição, o ex-governador Geraldo Alckmin, dar um "choque de gestão" no caótico trânsito paulistano.
De imediato, propõe retomar a construção dos corredores de ônibus, fazer pequenas obras para aumentar a fluidez do tráfego, repor os milhares de semáforos "inteligentes" quebrados e aumentar o contigente de pessoal da CET nas ruas. Não propôs, como fez outro de seus adversários, o deputado federal Paulo Maluf, soluções mágicas, como construir uma laje sobre os rios Tietê e Pinheiros.
O atual prefeito paulistano, Gilberto Kassab, que concorre à reeleição, desdenhou das sugestões de Marta. Num de seus repentes de machão, nos quais se esforça para incorporar gestos e falas do histrião Jânio Quadros, desafiou a ex-prefeita a comparar suas administrações e procurou desqualificar tudo o que foi feito por ela - inclusive no trânsito.
Assim, caiu na armadilha montada por Marta, que vai, certamente, levar o debate para essa área. Como disse, pretende reconquistar a classe média, já que tem garantida boa parte da votação da periferia da metrópole. Ao atacar o caos terrestre, ela poderá não só propor ações efetivas - que não estão sendo tomadas por Kassab -, mas também impor às administrações passadas a responsabilidade pelo que se vê hoje na cidade.
Cálculo do economista Marcos Cintra, da Fundação Getúlio Vargas, estima em R$ 33,5 bilhões anuais o prejuízo provocado pelos congestionamentos em São Paulo. O custo inclui horas de trabalho perdidas em carros e ônibus e o gasto adicional de combustível. Além disso há prejuízos adicionais para a saúde pública causados pela piora na qualidade do ar e para as empresas, que têm de cuidar de problemas de logística e do transporte de cargas.
É um custo considerável. Mas ainda pequeno, se a ele for somado o dano não aparente e incalculável que um ambiente a tal ponto hostil pode causar ao ser humano.
Se nada for feito por este ou pelo futuro prefeito, em poucos anos o velho bordão "São Paulo não pode parar" virará mais um anacronismo, lembrado por milhões de pessoas imobilizadas em carros, ônibus e caminhões num congestionamento interminável.
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