São raras as ocasiões em que o presidente Lula critica os empresários. Geralmente, como bom político que é, os elogia. A recíproca não é verdadeira. São poucos os empresários que, explicitamente, apóiam a gestão do petista. O presidente comparece a muitos eventos promovidos por entidades de classe, mas o relacionamento com seus anfitriões é distante e frio. Não raras vezes é obrigado a ouvir calado críticas sobre a política econômica, os juros altos, o câmbio desequilibrado.
Em dois eventos no mesmo dia em cidades diferentes, Rio e Diadema, Lula fugiu do script que vinha seguindo. Acusou os empresários de não terem repassado para os preços absolutamente nada do ganho que tiveram com o fim da CPMF. Disse que daria um prêmio a quem lhe indicasse alguém que tivesse feito isso. Falou ainda que o dinheiro tirado do imposto poderia, naquele momento, estar sendo investido em hospitais e na melhoria da saúde da população em geral.
Ao fazer esse ataque, Lula sugere que os patrocinadores do fim do tributo não tinham outra motivação para o que fizeram a não ser embolsar a parte que era destinada ao governo. Nenhum deles estava, na verdade, preocupado com o efeito perverso que a CPMF poderia ter sobre os preços ou sobre a produção. Estavam, isso sim, danados da vida porque o imposto comia uma parte de seus lucros.
O discurso do presidente foi simples. Mas quem quiser se aprofundar nele vai ver que a fala ressuscita o velho tema da luta de classes.
Sem querer, o presidente botou o dedo na ferida e apontou aquilo que é responsável pelas dificuldades do país: uma elite que se mostra preocupada com os destinos da nação, mas só age mesmo em proveito próprio.
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