Grupos a favor e contra a política de cotas para negros em universidades têm se mexido nos últimos dias. O Supremo Tribunal Federal julga duas ações sobre o tema. Tanto os defensores quanto os que são contrários às cotas dizem que suas posições são anti-racistas. Intelectuais, artistas e militantes de movimentos variados se opõem nessa questão.
O certo é que um benefício as cotas já trouxeram para o negro brasileiro: obrigaram as pessoas a pensar sobre se a nossa sociedade é ou não racista, segrega ou não as pessoas devido à cor de sua pele. A partir dessa dúvida, outras surgiram e o debate tem ficado cada vez mais rico.
E essa discussão vale-se, cada vez mais, de estudos sérios, que ignoram as opiniões apaixonadas. A Folha trouxe à luz um deles, feito pelo IBGE para a Secretaria Especial de Igualdade Social da Presidência da República.
A constatação mais chocante é que a maioria dos negros brasileiros ainda vive perto dos locais onde seus ancestrais entraram no país, os portos em que foram recebidos. Também, que permanecem nas regiões para onde foram deslocados durante o período da escravidão. Ou seja, provavelmente devido às suas condições econômicas, não conseguiram se mover para outros lugares e oportunidades de ascensão social. Ficaram paralisados, condenados à imobilidade.
Poucos dias antes de publicar essa notícia, o mesmo jornal havia dado outra que mostra a triste situação dos negros no Brasil: apenas 3,5% deles chega a cargos de chefia nas empresas privadas.
Se a pesquisa fosse feita em outros ambientes, certamente teria resultados similares. Afinal, quantos negros são vistos no topo da carreira eclesiástica, ou da militar, ou da judiciária, ou da legislativa, só para citar alguns exemplos?
Nesses 120 anos de promulgação da Lei Áurea, a verdade é que os negros brasileiros têm se inserido muito lentamente na sociedade brasileira.
Discutir a validade da política de cotas para a universidade é algo muito positivo. Mas não se deve esquecer que, antes de mais nada, para que o país realmente seja a democracia racial tão propalada pela propaganda ufanista, é preciso que supere desigualdades centenárias, a partir de investimento maciço em coisas básicas ao ser humano, como educação, saúde, moradia, transportes, trabalho.
Quando a nação começar a ser definida como tal, talvez a sociedade comece a se enxergar de uma única cor, a da esperança e dos sonhos.
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