Desde os tempos de líder estudantil, a vida de José Dirceu foi marcada por polêmicas. Sua prisão no congresso de Ibiúna, a libertação, o exílio, as estadas clandestinas no Brasil, com direito a identidade falsa e novo rosto, a carreira no Partido dos Trabalhadores, candidaturas, derrotas e vitórias, a facilidade em fazer amigos e desafetos, o gosto pelo poder, as viagens aos Estados Unidos e as conversas com o alto escalão do governo George W. Bush, o estilo Richelieau de administração na Casa Civil - tudo isso fez dele um personagem fascinante na história política brasileira contemporânea.
Hoje com os direitos políticos cassados, Dirceu afirma se dedicar ao trabalho de advogado, com clientes que não revela, mas que se sabe importantes, e consultor de temas ignorados, porém presumidos. Na área da política, jura estar afastado dos grandes projetos que lhe renderam a fama de hábil articulador e implacável adversário. Mas ainda exerce grande influência no PT, em muitos de seus militantes e parlamentares. É o chefe de considerável parcela da máquina que pacientemente, durante vários anos, ajustou aos seus interesses.
Sua trajetória, porém, não o diferencia de muitos outros caciques espalhados pelo país. Homens como Dirceu existem às centenas em todos os partidos políticos, em todas as freguesias deste imenso Brasil. Alguns se contentam apenas com o poder paroquial, outros têm apetite mais voraz. Mas poucos conseguem ter o sucesso de Dirceu, que além de traçar uma meta ambiciosa, conseguiu atingí-la e desfrutar de suas benesses durante certo tempo.
Dirceu é hoje uma vítima de si próprio. Ao pretender continuar como protagonista da cena política, tem de, obrigatoriamente, se expor às regras desse jogo. E, por ter sido, toda a sua vida, um jogador de apostas altas, se expõe em demasia. Assim, tem recebido golpes doloridos de seus adversários, mas parece não se importar. É mestre no blefe, na dissimulação, na finta, na ilusão. Como uma esfinge a ser sempre decifrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário