O fenômeno do dólar baixo mudou a estratégia da indústria automobilística nacional, que passou a mirar o mercado interno e vem batendo sucessivos recordes de produção e venda. O setor ri à toa. Deixou até de se queixar da carga tributária. E, importando boa parte das peças que precisa, levanta os braços aos céus por trabalhar com dólar tão em conta.
Com a procura por carros novos cada vez mais alta, graças ao crédito longo e farto, os fabricantes se esqueceram de vez de mexer nos preços. Isso é, mexem só para cima, nunca para baixo. Pudera, a fila para o zero quilômetro demora, às vezes, uns quatro meses.
Historicamente acostumado a sofrer nesse mercado, o brasileiro médio se cala e se contenta com um produto que é hoje um dos piores e mais caros do mundo. O carro mais barato produzido no Brasil, o Mille, dolarizado, sai por cerca de US$ 14 mil. Vem com o básico, praticamente só o motor e as quatro rodas. Pelo equivalente, nos Estados Unidos, pátria do transporte individual, dá para comprar um veículo infinitamente melhor em termos de conforto e tecnologia.
Na verdade, os fabricantes nacionais se movem apenas quando se sentem ameaçados. No início dos anos 90 deram um salto à frente devido à avalanche de importados que inundou o mercado brasileiro. Tiveram de investir para não soçobrar. Jogaram pesado e, com a ajuda do governo federal, que elevou a tarifa de importação, voltaram à posição confortável que sempre tiveram. A chegada dos "new players" mudou pouco o cenário: as quatro grandes (GM, Volks, Fiat e Ford) mantiveram-se com folga à frente dos concorrentes.
Hoje, ocorre um novo fenômeno. O dragão chinês está à solta no mundo. Descobre novos mercados, novos parceiros e oportunidades. A indústria automobilística não fica de fora. Nem a América do Sul. Em breve, os veículos "made in China" estarão rodando por nossas esburacadas ruas e estradas. É só uma questão de tempo.
Como aperitivo, dentro de poucos dias já poderão ser vistos os dois primeiros modelos importados pela Effa Motors, uma microvan no estilo das antigas Towners, e o minúsculo M-100, que custa R$ 23 mil, menos que o Mille, porém com ar-condicionado, CD player, dois anos de garantia e outros mimos que nos nacionais são cobrados - e bem - à parte.
Não faltará quem vá dizer que os carros chineses são defasados, inseguros e pouco confiáveis - como se os brasileiros também não carregassem todas essas maldições.
A verdade é que os chineses de bobos não têm nada. Devem, de início observar o gosto do brasileiro e, aos poucos, adaptar seu produto a ele. Já se foi o tempo em que o consumidor nativo torcia o nariz para as bugigangas orientais. A competição feroz entre os fabricantes liquidou os aventureiros. Ainda bem. Nem tudo da tal lei de mercado é ruim.
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