O presidente Lula, dizem os isentos jornalões, encantou uma platéia formada por cerca de 4.000 prefeitos, vereadores e seus convidados, em Brasília, na abertura da Marcha dos Prefeitos. Ouviu pedidos, reclamações e muitos elogios antes de discursar por 50 minutos. Saudou o que chamou de "nova lógica" na relação entre os entes federados, na qual os prefeitos não são "adversários". Sugeriu uma "tríplice aliança administrativa" para "melhorar a vida de todo mundo". Praticamente conversou com a platéia: "Eu aprendi a tratá-los como companheiros, e é assim que eu gostaria de ser reconhecido por vocês. Alguém que passou pela Presidência da República e que nunca fez uma discriminação a qualquer prefeito, independentemente do partido a que ele pertence."
Para completar o processo de estabelecer total empatia com o público, brincou sobre seus dotes de orador. Saudou o presidente da Frente Nacional dos Municípios, João Paulo, prefeito de Recife, e nessa fala usou a expressão francesa "en passant". Foi quando atingiu o desempenho máximo do evento: "Gostaram do 'en passant'? Isso é para magoar aqueles que têm preconceito contra mim. Há uma evolução estupenda, gente. Quem falava 'menas laranja' e agora fala 'en passant'... há evolução lingüística extraordinária."
O pequeno relato sobre o desempenho de Lula frente aos prefeitos e vereadores dá uma idéia clara sobre porque ele ostenta índices de popularidade tão altos. Há, sem dúvida, todos os fatores econômicos que melhoraram sensivelmente a vida da população, mas também o evidente carisma de um político forjado fora dos padrões tradicionais, que abusa da espontaneidade para cativar sua audiência.
Impressionante é que toda a vitoriosa carreira de Lula foi construída dessa forma e ainda hoje há quem o critique exatamente por essa sua naturalidade, comparando-o com modelos saídos de laboratórios, de sabor tão artificial quanto um chiclete tutti-frutti. Sem contar os que, num exercício tão sádico quanto inútil, estampam em manchetes suas "gafes", como se elas não fossem encaradas naturalmente pelos ouvintes como deliciosas "boutades".
E assim, o ex-metalúrgico continua a viver o processo que chamou de "metamorfose ambulante" - outra brincadeira que foi muito mal-vista pelos seus cada vez mais emburrados, sombrios e taciturnos adversários.
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