Político brasileiro não costuma dizer o que pensa. Geralmente, se esquiva de definições mais precisas sobre sua ideologia. Se é de direita, se proclama um liberal ou, num aorrubo de extremismo, um social-democrata. Não importa o nome de seu partido. Até o PFL com seus notórios defensores da ditadura militar instaurada em 1964 mudou o nome para Democratas - um acinte a qualquer democracia.
São raros os políticos no país que, além de assumir suas posições ideológicas, se dispõem a discutí-las publicamente.
Não fazem porque não querem. A internet é um excelente meio para que seus eleitores fiquem sabendo o que eles acham disso ou daquilo ou, simplesmente, de que lado estão no jogo do poder.
O deputado federal José Genoíno é uma dessas exceções. Até assumir o cargo de presidente do PT foi um parlamentar elogiado por companheiros e adversários. Com a ascensão do partido à presidência, viveu a experiência de estar sob os holofotes pelo que fez, pelo que deixou de fazer e pelo que não fez.
A história do tal mensalão poderia ter arruinado sua carreira política. Foi preciso que entendesse que a sedução dos altos cargos é ilusória para que lhe fosse dada uma nova chance no Parlamento. Oportunidade que, parece, está sendo bem aproveitada.
Genoíno, ao contrário da maioria dos colegas, que usa a internet apenas como uma placa de publicidade estática, montou um site dinâmico e interativo, no qual se tem uma noção clara de seu pensamento político.
O caminho que percorreu desde os tempos em que era solicitado pela fina flor da imprensa conservadora - foi articulista do Estadão e figura freqüente do noticiário da Globo - até o linchamento público por parte dos mesmos veículos, de 2005 em diante, já foi relatado no livro "Entre o Sonho e o Poder", de Denise Paraná.
Mas quem quiser uma versão abreviada da carreira política e do que pensa e faz hoje o deputado José Genoíno pode ficar com a entrevista que deu à revista "Fale!", de Fortaleza, republicada em seu site. É uma boa amostra de que política se faz, fundamentalmente, com base em idéias - e é do seu debate que surge a luz.
Vai, a seguir, um trecho da entrevista. Cachaça da boa antes do almoço:
"Eu sou militante de esquerda, me baseio nos valores do socialismo democrático. Eu acho que a esquerda brasileira tem que recolocar a idéia da utopia, do sonho e do seu projeto de disputa política na sociedade. Nós vivemos numa era em que a barbárie, a 'coisificação', a quebra das utopias, as decepções e frustrações, devem ser enfrentadas pela esquerda. Nem é o socialismo autoritário, nem o deus do mercado. Eu acho que devemos buscar o resgate do caminho da cidadania, dos direitos coletivos e individuais e de uma idéia de uma sociedade justa. A esquerda deve partir da busca da igualdade social nos marcos da radicalização da democracia. Tanto o PT, como o PCdoB, como o PSB, como o PDT, e as personalidades que giram em torno do ideário de esquerda, deveriam fazer um debate de mérito. O debate político brasileiro está rebaixado."
Quem discorda dele pode mudar facilmente de opinião com a cobertura dos jornalões e assemelhados sobre o eletrizante caso dos cartões corporativos. Aja estômago!
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