Esta crônica foi publicada neste espaço há exatamente um ano. Seu protagonista é tão importante que resolvi colocá-la novamente no topo.
Graciliano Ramos morreu no dia 20 de março de 1953. Tinha 61 anos. Foi um dos maiores escritores brasileiros, um dos maiores brasileiros de todos os tempos.
Sua biografia é inspiradora: escreveu o primeiro livro - Caetés - aos 34 anos, foi prefeito da cidade em que morava, Palmeiras dos Índios, interior de Alagoas, esteve nas prisões da ditadura Vargas, militou no venerando Partido Comunista Brasileiro e é autor de clássicos da literatura nacional - São Bernardo, Angústia, Insônia, Vidas Secas, Memórias do Cárcere.
A data de sua morte é apenas um pretexto bobo para falar dele. O velho Graça não deveria ser lembrado apenas nos dias de seu nascimento e morte. Quem leu seus livros sabe disso. Quem leu seus livros certamente foi tocado pela extraordinária dimensão humana dos personagens, pelo rigor do estilo e pela beleza da narrativa. Graciliano Ramos não pode ser esquecido, nunca.
Abaixo, o auto-retrato que fez aos 56 anos. Uma obra-prima de concisão e ironia, na terceira pessoa:
"Nasceu em 1892, em Quebrangulo (paroxítono), Alagoas. Casado duas vezes, tem sete filhos. Altura, 1,75. Sapato n.º 41. Colarinho n.º 39. Prefere não andar. Não gosta de vizinhos. Detesta rádio, telefone e campainhas. Tem horror às pessoas que falam alto. Usa óculos. Meio calvo. Não tem preferência por nenhuma comida. Indiferente à música. Não gosta de frutas nem de doces. Sua leitura predileta: a Bíblia. Escreve Caetés com 34 anos de idade. Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados. Gosta de beber aguardente. É ateu. Indiferente à Academia. Odeia a burguesia. Adora crianças. Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel António de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Gosta de palavrões escritos e falados. Deseja a morte do capitalismo. Escreve seus livros pela manhã. Fuma cigarros Selma (três maços por dia). É inspetor de ensino, trabalha no Correio da Manhã. Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo. Só tem cinco ternos de roupa, estragados. Refaz seus romances várias vezes. Esteve preso duas vezes. É-lhe indiferente estar preso ou solto. Escreve à mão. Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio. Tem poucas dívidas. Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas. Espera morrer com 57 anos."
Capitão Lobo era o comandante do quartel em que Graciliano esteve preso no Recife, em 1936; Cubano foi um ladrão que ele conheceu na cadeia.
Quem quiser detalhes da vida e da maravilhosa obra de Graciliano Ramos deve visitar seu site oficial: www.graciliano.com.br
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