A página 2 do Estadão, dedicada a artigos de convidados, está uma delícia. Expõe escancaradamente todos os desejos daquela que foi distinguida com o epíteto de "elite branca". São imperdíveis, por exemplo, artigos como os do deputado estadual (ex-federal, ex-ministro de Collor) João Mellão Netto ("A Força Moral de um Rei"), no qual enaltece as virtudes da monarquia e, em especial as do rei Juan Carlos de Borbón:
"Se um rei - como é o caso de Juan Carlos - é capaz de repreender e colocar em modos ditadores estrangeiros irreverentes, malcriados e amantes de controvérsias, como Chávez, imagina-se o poder moral que pode exercer junto aos seus próprios súditos.Viva o rei! Na falta de um nosso, que viva o rei de Espanha, Sua Majestade Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón. Que falta faz alguém com sua estatura em nossa tão maltratada Nação..."
Antes desse epílogo, Mellão havia elogiado o "generalísimo" Franco, por ter escolhido tão bem seu sucessor, e enumerado as mazelas do ofício real:
"Ser rei, num país moderno, democrático, não é uma profissão fácil. É preciso que o monarca, bem como os demais membros de sua família, estejam sempre dispostos a participar de um sem-número de cerimônias, no país e no exterior. Todos, também, hão de trajar-se e saber comportar-se de forma nobre e austera. Tudo isso sem jamais perder a simpatia. Trata-se, sem dúvida, de um ofício difícil e extenuante, do qual a família real não pode jamais se eximir. Muitos monarcas, nos tempos modernos, firmam contratos com o Estado, nos quais se estabelecem desde as regras de comportamento até mesmo o número anual mínimo de eventos a que os membros da família real devem obrigatoriamente comparecer. O luxo em que vivem os monarcas não só é necessário, para a solidez das instituições, como também cobra um alto preço, em obrigações e compromissos, da família real."
O artigo ocupa meia página do jornal. A infantilidade dos seus argumentos mostra que como articulista, Mellão está mais para bobo da corte.
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