quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Non sense

A revista Indústria Brasileira pretende ser séria. É órgão do Sistema Indústria (CNI, Sesi, Senai e IEL). Algumas matérias tentam discutir temas relevantes ao seu público. Mas, como tem acontecido com grande parte da grande imprensa, não deixa de dar estocadas no governo Lula. A última edição traz uma entrevista com FHC. Nada novo. Páginas à frente aparece uma seção chamada Assunto Pessoal. Deve ser destinada a artigos de personalidades. Na de agosto, a responsabilidade ficou com Danusa Leão. Para quem não a conhece, o rodapé da página informa: "Colunista da Folha de S. Paulo".
O artigo tem o sugestivo nome de Até Quando? Começa com as manjadas espinafradas ao presidente Lula, dizendo que "em qualquer país sério, no caos aéreo que temos vivido ... o governo teria tomado providências sérias e urgentes, mas não aqui, e a popularidade do presidente continuou a mesma". Depois, lembra a vaia que ele tomou na abertura dos Jogos Pan-Americanos.
Mas é o parágrafo seguinte que merece mais atenção:
"Os pobres analfabetos a quem o governo dá uma esmola de R$ 50 ou R$ 70 por mês no programa Bolsa Família, esses não sabem (sic) do que está acontecendo. Lula segue com a política de não dar educação ao povo, e a indústria do analfabetismo continua forte: com uma notinha de R$ 50 no bolso no fim do mês, os votos em época de eleição estão garantidos. Uma verdadeira vergonha."
Taí. É quase inacreditável que uma pessoa que se julga inteligente e culta ao ponto de escrever em jornais e revistas não só pense, mas divulgue tanta besteira. Como pode o presidente seguir com a "política de não dar educação ao povo" se uma das condicionantes para receber o Bolsa Família é justamente a freqüência escolar?
Ninguém pode negar a Danusa Leão o direito de expor a sua ignorância ao público. Por menos que ela deseje, o Brasil ainda é uma democracia. Mas é uma irresponsabilidade uma revista sustentada, basicamente, pelos trabalhadores, destinada a discutir criticamente problemas que interessam ao setor industrial, dar voz a gente desse tipo.
E para quem ainda duvida do notável poder da colunista de exalar bobagens, vale destacar o fim do seu artigo:
"É claro que a crise aérea vai se resolver, mas só depois que o ministro Nelson Jobim tiver colaboradores competentes e honestos, as pistas que estão no limite ficarem 100% e voltarmos a confiar na aviação brasileira como antes. Aí então vamos poder voar do Rio de Janeiro a São Paulo como se estivéssemos indo à esquina, sem nem pensar que existe algum perigo ao entrar num avião."
Bem, de uma coisa Danusa Leão pode ter certeza: os "pobres analfabetos" que recebem a esmola de R$ 50 por mês não estarão nessa ponte-aérea. Eles deverão estar mais ocupados gastando toda a dinheirama que ganham sem fazer nada.

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