sábado, 4 de agosto de 2007

Besteirol

Já falei tempos atrás numa "crônica" de certas pessoas a quem os jornais invariavelmente recorrem para salvar suas pautas. Elas estão sempre disponíveis e dizem sempre aquilo que o jornalista quer ouvir. Se é para falar mal do governo, chame o fulano; se é para defender, o beltrano. São identificados por títulos que impressionam: doutor nisso, especialista naquilo.
Uma dessas figurinhas fáceis é Leôncio Martins Rodrigues, que volta e meia aparece ou no Estadão ou na Folha para meter o pau em Lula e no PT. Tucano de carteirinha, não se sabe se ele tem alguma outra opinião a não ser achar ruim tudo aquilo que vem do atual governo, ou se faz outra coisa na vida que não dar entrevistas aos dois jornalões.
Outro dia, ele se saiu com uma obra-prima de superficialidades e idiotices. Contou, é bem verdade, com a ajuda do jornalista que o entrevistou. Dessa vez foi no Estadão e o mote da peça anti-Lula foram as vaias ao presidente. Uma preciosidade digna dos nossos mais insígnes "intelectuais".
Aí vão alguns trechos selecionados (porque ninguém é de ferro) do seu pensamento:

"O caos no sistema aéreo, o acidente da TAM, o episódio com o seu assessor Marco Aurélio Garcia, as vaias na abertura dos Jogos Pan-Americanos, tudo isso perturbou o presidente e revelou o seu lado autoritário - de quem não sabe receber vaias."
(Na mosca! Os grandes ditadores preferem os aplausos.)

"Vou lembrar que que a vaia só acontece nas democracias. Elas não acontecem nos regimes autoritários, onde as pessoas, embora tenham mais razões para vaiar, não o fazem, por medo. Também é bom lembrar que as vaias parecem mais aceitáveis quando uma pessoa que ocupa um cargo público se comporta mais como representante de um grupo político do que como administrador. A vaia é menos aceitável quando a autoridade aparece representando uma coletividade mais ampla, um país, um Estado."
(E o presidente Lula representava quem na abertura do Pan? A torcida do Corinthians?)

"É uma forma de protesto daqueles que não têm outra forma para fazê-lo."
(É, no Brasil os jornais não inventaram ainda as seções de cartas, não se faz eleição, as manifestações públicas são proibidas...)

"Percebo esse horror ao Lula e ao governo petista principalmente nas Regiões Sudeste e Sul do País. Ele aparece nas conversas, nas trocas de e-mails, na internet. As pessoas se perguntam: como que o Lula se deixa fotografar, numa hora dessas, com uma viola na mão? Esse horror não atinge, no entanto, as pessoas de escolaridade mais baixa, os setores que não têm internet."
(Até parece que nosso intelectual troca e-mails com desconhecidos. Se não faz isso, a sua observação não tem o menor sentido: afinal, grande parte de seus amigos deve pensar como ele)

"A classe média, as correntes políticas liberais democráticas sempre tiveram dificuldade para pôr gente na rua."
(A última coisa que a classe média quer fazer é pôr gente na rua. Aliás, ela prefere os shopping centers às ruas. Quanto às "correntes políticas liberais democráticas", nosso intelectual precisa esclarecer o que quer dizer com isso)

"Os grupos que mais se mobilizam estão no interior do movimento estudantil - que é dominado pela esquerda. Os estudantes são mais disponíveis, porque freqüentemente não trabalham, não têm que sustentar família."
(Além de esquerdistas, esses estudantes são vagabundos - este mundo está perdido!)

"Os estudantes se mobilizaram e derrubaram o governo Collor."
(Ops, essa é nova. Aposto que nem os estudantes sabem que estão com essa bola toda. Ou nosso intelectual têm provas irrefutáveis desse poder ou então disse uma tremenda bobagem)


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