Tem lugar sobrando na lata de lixo da história

A manifestação do jurista Ives Gandra Martins, numa entrevista à Folha, sobre o julgamento da AP 470, a do tal mensalão, é a pá de cal no longo e áspero debate sobre a "justiça" das sentenças e a lisura da condução do processo.
Ives Gandra, todos sabem, é um dos expoentes do conservadorismo caboclo. 
Se falou o que falou, que José Dirceu foi condenado sem provas e que o uso da fatídica teoria do domínio do fato "traz insegurança para todo mundo", é porque o Supremo Tribunal Federal realmente fez uma lambança monumental, histórica, nesse julgamento.

Perguntado sobre se o STF atuou politicamente, Gandra tentou tucanar a resposta, mas não conseguiu inteiramente: "Pode ter alguma conotação política. Aliás o Marco Aurélio deu bem essa conotação. E o Gilmar também. Disse que esse é um caso que abala a estrutura da política. Os tribunais do mundo inteiro são cortes políticas também, no sentido de manter a estabilidade das instituições. A função da Suprema Corte é menos fazer justiça e mais dar essa estabilidade. Todos os ministros têm suas posições, políticas inclusive."
A dúvida que resta é por que Gandra somente agora, quando os réus do processo foram condenados, deu a sua opinião.
Ninguém vai saber ao certo a resposta.
Fica, porém, a impressão que o advogado quis preservar seu nome e reputação entre a "elite" que busca desesperadamente mandar para a cadeia alguns próceres do PT, e que agora, quando eles já estão condenados, novamente pretende manter seu prestígio profissional, dizendo o que muitos antes já disseram.
Seja lá como for, a opinião do ultraconservador Gandra é importante para mostrar àqueles que estão pretendendo dar uma lição a essa "raça" lulopetista que a vitória que estão prestes a comemorar vai cobrar um alto preço no futuro.
Para os juízes que agiram como inquisidores, a lata de lixo da história.
Para a imprensa que estimulou o linchamento, a aceleração do processo que a desacredita como instituição democrática.
Para os patrocinadores ocultos dessa ignomínia, a frustração por ver que ainda existem no mundo valores que se sobrepõem à baixeza e à canalhice.