quinta-feira, 19 de setembro de 2013
E por que não fabricamos nosso próprio caça?
O programa de modernização da Força Aérea Brasileira (FAB), o FX-2, cuja joia mais preciosa e cara é a compra de 36 aeronaves de "superioridade aérea", segundo o jargão militar, ou os populares "caças", ganhou, nos últimos dias, mais uma vez, o noticiário, por causa da revelação de que os Estados Unidos têm, continuamente, espionado cidadãos brasileiros, inclusive a própria presidente Dilma Rousseff.
O adiamento da viagem da presidente aos Estados Unidos, em outubro, como retaliação à atuação criminosa da Agência de Segurança Nacional dos EUA, a NSA, levou vários analistas a apostar que o governo brasileiro vai tirar da disputa do FX-2 a Boeing, que produz o F-18 Super Hornet, que liderava a corrida, à frente dos concorrentes Rafale, da francesa Dassault, e do Gripen NG, da sueca Saab.
O projeto FX-2 se arrasta desde 2006, quando foi anunciado para substituir o FX, menos ambicioso, lançado no ano 2000.
A compra dos caças, que colocaria a FAB novamente como uma força respeitável na América do Sul, vai custar aos cofres cerca de US$ 3 bilhões, valor alto para o Brasil, mas pequeno em comparação com os gastos militares de outros países do chamado Brics, grupo que reúne também Rússia, China, Índia e África do Sul, ou seja, os principais emergentes. Perto do que os Estados Unidos gastam em defesa, então, a quantia é irrisória.
O projeto FX-2 divide especialistas desde o seu lançamento.
E também o governo.
Quando Lula era o presidente e Nelson Jobim o ministro da Defesa, a preferência caía sobre o francês Rafale.
Lula saiu, o projeto continuou se arrastando por falta de verbas.
Dilma chegou e ele foi retomado, timidamente.
Os americanos, então, passaram a ser favoritos.
Em sua concepção, o FX-2 não visa apenas a compra dos aviões. Estipula também a transferência de tecnologia.
E é aí que, como se dizia antigamente, "a porca torce o rabo".
Embora altas autoridades americanas garantam que a Boeing repassará integralmente a sofisticada tecnologia do F-18, isso seria uma medida inédita por parte deles e por isso ainda há uma desconfiança no ar sobre se esse seria efetivamente um bom negócio.
O caça sueco, que somente agora começa a realmente voar, por sua vez, utiliza muitos equipamentos "made in USA", o que também não é, exatamente, conveniente para o Brasil - os Estados Unidos não permitem, por exemplo, que aviões feitos em outros países, mas que usem peças produzidas por empresas americanas, sejam vendidos a nações consideradas "inimigas".
Sobra, então, o Rafale, um puro-sangue francês, que, para seu azar, é o mais caro de todos.
Dos três, o F-18 é o caça mais utilizado, na ativa em vários locais do mundo.
Os planos para a compra das aeronaves, que começaram com o projeto FX, já somam 13 anos.
Nesse período, o Brasil, com uma indústria aeronáutica sofisticada, poderia ter desenvolvido uma aeronave que se adequasse ao seu cenário de defesa. Com um custo menor e benefícios maiores.
Isso não seria novidade.
Na década de 80, Brasil e Itália desenvolveram e produziram o avião de ataque AMX, uma aeronave até hoje utilizada pela FAB, com a designação de A-1, e que se encontra atualmente em processo de modernização.
Essas associações entre países em programas militares são comuns.
Rússia e Índia, por exemplo, projetam em conjunto uma aeronave de quinta geração, a mais sofisticada do catálogo da aviação militar.
O Brasil não tem inimigos externos declarados. O reequipamento da FAB é necessário para que o país, de dimensão continental, não perca a corrida para seus vizinhos, muito menores, e seja capaz, ao menos, de dissuadir qualquer intenção de violação de seu espaço aéreo, de suas fronteiras.
Claro que, pela sua importância geopolítica, o Brasil não pode prescindir de contar com forças armadas poderosas.
O projeto FX-2, apesar de toda má vontade governamental, pelo menos tem servido para que se faça um debate muito importante para o destino do país: afinal, a defesa é uma área prioritária ou não?
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