O filho da ignorância

A cada eleição, fica cada vez mais explícito o ódio que o paulistano tem pelo PT. Não todos, claro, mas quase a metade da população, a julgar pela taxa de rejeição que têm os candidatos desse partido aos cargos majoritários, como Marta Suplicy nesta eleição.

É um ódio profundo, que parece se ampliar a cada vez. Basta ler os vários relatos sobre o primeiro turno da eleição municipal à disposição na internet, como o texto "Como Kassab ultrapassou Marta em São Paulo", de Mauro Carrara, na agência Carta Maior para se ter uma idéia da dimensão do fenônemo. 

Pessoas que deveriam estar agradecidas às políticas de inclusão social desenvolvidas pelos governos federal e municipal, quando este esteve com o PT, estão entre aquelas que rejeitam a sigla, sob argumentos os mais variados e absurdos possíveis. Nesse caso, não se trata da velha luta de classes em ação, mas sim de um desdobramento seu: o pobre já está contaminado irremediavelmente pelo pensamento do rico, como se estivesse preso numa espécie de encantamento. 

Claro que deve haver alguma explicação científica para o fato, mas o que o bom senso indica é que a raiz de todo esse ódio está no preconceito - principalmente contra o símbolo máximo do PT, o presidente que fala errado, que é nordestino, ex-operário, ex-sindicalista, tudo, enfim, que causa indigestão a uma determinada classe social temerosa de perder, por meio dessa figura, seus privilégios centenários.

Como essa classe, além de dominar os meios de produção, controla totalmente os meios de comunicação, acaba propagando por toda a sociedade os seus valores e a sua ideologia. Poucos deixam de se contaminar. E, numa cidade como São Paulo, onde a concentração de pessoas é muito maior do que em todas as outras,  o efeito dessa lavagem cerebral é devastador. 

No fundo, só a educação, numa acepção ampla do termo, pode combater o preconceito. Seria um trabalho para mais de uma geração, a começar na família e a continuar pela escola, pela vida toda. Algo absolutamente utópico neste atual estágio da sociedade brasileira, em que o ensino público vive entre a penúria e a indigência.

De qualquer forma, é sempre bom estar consciente de que, muitas vezes, as pessoas são levadas a agir de determinada maneira não porque tiveram o discenimento de fazer uma escolha, mas sim porque foram condicionadas a não pensar, a apenas seguir, como um animal, seu instinto. 

O ódio é apenas conseqüência do preconceito e este o produto mais caro da ignorância.